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1. Intróito.  Começou por me dizer que se chamava Carlos − e que o seu caso era simples. Há muito, muito tempo, era uma vez um blogue chamado simplex, que agregou, durante a campanha para as últimas eleições legislativas, apoiantes do Partido Socialista. Entre os participantes mais activos contava-se  o senhor Carlos Santos, professor universitário com obra publicada numa área do saber a que  se convencionou chamar de econometria.  Concluídas as eleições e reeleito o candidato do Partido Socialista, decidiu o senhor Carlos Santos repudiar a sua  participação no simplex  e as mais diversas tomadas de posição que havia tomado até então, nesse e noutros blogues, enveredando por uma campanha  de denúncias sequencialmente programadas, envolvendo, ainda hoje, a divulgação pública de mensagens trocadas entre os participantes no simplex. O senhor Carlos Santos escreve hoje no blogue corta-fitas, assume-se liberal, conservador e de  direita,  afirma amar o Papa, insinua simpatia pelo pensamento monárquico e algum desprezo por homossexuais e divorciados.

2. Reminiscências esclarecedoras ou tudo o que teríamos que ler sobre o assunto. Antes de perscrutarmos os segredos do fascinante senhor Carlos Santos, deve o leitor ter presentes  as minhas sábias e prudentes palavras quando afirmei, há tempos, que «[u]m membro de um gabinete ministerial não é, em Portugal ou em qualquer outra democracia ocidental, um agente administrativo numa relação jurídica de emprego público. Um adjunto e um chefe de um gabinete ministerial são, bem pelo contrário, agentes de confiança política e livre nomeação», que «os membros dos gabinetes ministeriais não são funcionários públicos», antes «existem, são nomeados e remunerados para desempenharem uma função específica, a qual essencialmente consiste, no nosso Direito e no nosso sistema político, na prestação de apoio ao titular do cargo político (ministro, secretário-de-estado, etc.) em tudo (ou quase tudo) aquilo que o mesmo entender conveniente», e, finalmente, que «um gabinete político sem membros a fazer política trata-se de uma impossibilidade ôntica».

3. Conclusões preliminares ou da ausência de assunto. Dito isto, e sem querer retomar os traços da trama alegadamente descoberta pelo senhor Carlos Santos, importa concluir que a mesma não constitui, desde logo, uma trama, que os factos relatados pelo senhor Carlos Santos nada contêm de ilícito (salvo no que se refere a eventuais actos do próprio) e que aquilo que neles conseguimos detectar diz  sobretudo respeito à aborrecida e inócua organização interna de um blogue de apoio a um partido e um programa políticos, a comunicações dos seus membros entre si e com terceiros (agentes políticos) e à coordenação geral de quem nele escreve (independentes, membros de gabinetes ministeriais e meros filiados no PS). Lamentavelmente (para o denunciante), não vislumbramos, por não existir, qualquer utilização abusiva de meios públicos (computadores; Internet), mas a mera utilização profissional (no caso dos agentes políticos) ou pessoal (no caso dos voluntários e demais filiados) dos mesmos. Consequentemente, as historietas que o senhor Carlos Santos nos tem vindo a impingir diariamente ao longo dos últimos meses nada mais revelam do que uma monumental demonstração de incompetência do próprio para a interpretação de normas e deveres de natureza jurídica ou ética e a compreensão do mundo da vida. Uma maçada.

 

Um membro do Simplex a tentar manter Carlos Santos à distância
Fig. 1: um membro do simplex a tentar manter Carlos Santos à distância.

4. Da segunda incompetência. Convém também acrescentar que o senhor Carlos Santos, o mesmíssimo Carlos Santos que activamente participou no simplex e assim contribuiu para a reeleição do engenheiro José Sócrates, que ao longo dessa participação fez amplo uso da informação que lhe foi transmitida (que não recusou) por pessoas que hoje censura, e que em diversas ocasiões propôs ou aceitou alegremente as agendas e temas que foram sendo sugeridas e debatidas internamente pelos membros do blogue, não era membro de um gabinete ministerial, não desempenhava funções políticas nem foi candidato a cargo algum durante as últimas eleições legislativas, pelo que não se encontrava, à data, cometido de tarefas que vagamente se relacionassem com as eleições legislativas em causa ou abrangido pelas habituais atenuações laborais que a lei estabelece a favor de candidatos. Ou seja: o senhor Carlos Santos, membro do simplex, não passava, à data dos factos relatados pelo próprio, de um singelo professor universitário que, nessa qualidade, fez uso intensivo do computador, do tempo, dos electrões e do contrato de comunicações electrónicas afectos ao serviço que prestava, e presta, à Universidade que o acolhe. E escapando-me em que medida a defesa do Partido Socialista e do programa do engenheiro José Sócrates, através da escrita regular e entusiástica no simplex, se enquadra nas funções académicas do senhor Carlos Santos, creio que o senhor Carlos Santos vai abrangido (e bem) na crítica que antes havia apontado (e mal) a terceiros, e que a respectiva participação no simplex, ao envolver o recurso a meios que não se encontram afectos ao desempenho de funções políticas, constitui a menos legítima e a mais abusiva de todas as participações no referido blogue.

5. Da terceira incompetência. Podemos legitimamente questionar-nos se tudo isto é pura incompetência ou, pelo contrário, obra de um génio do mal. Na busca de respostas, penetremos no senhor Carlos Santos, recordando a recente insinuação pelo mesmo divulgada (aqui; post posteriormente alterado) quanto à família de um chefe de gabinete ou adjunto de um gabinete e assistente da Faculdade de Direito de Lisboa, que dá pelo nome Tiago Antunes. No entender do senhor Carlos Santos, as funções públicas hoje exercidas pela mãe e pelo irmão do senhor Tiago Antunes (o alvo), justificam  a afirmação de que os três constituem uma família que se senta à mesa do orçamento. Depois de receber um e-mail de Tiago Antunes, o alvo, no qual o senhor Carlos Santos terá sido virilmente informado de que o alvo não toleraria insinuações futuras envolvendo a sua família (eu teria optado por aplicar uma sova no senhor Carlos Santos) e que, na hipótese de as mesmas virem a repetir-se, o senhor Carlos Santos sofreria prontas represálias legais, decidiu este (again) revelar publicamente o teor da interpelação recebida, com algumas (e habituais) patetices à mistura. Até aqui, nada de novo, atendendo a que a delação  é algo a que o senhor Carlos Santos se dedica com grande afinco e regularidade. O problema é que o senhor Carlos Santos não só persiste na revelação pública e indevida de comunicações privadas (e de fotografias e outros factos de natureza pessoal dos diversos alvos), como decidiu, recentemente, partilhar com o mundo um segundo conjunto de construções mentais envolvendo os familiares e amigos de curso dos seus alvos. Também nestas intrigas o senhor Carlos Santos se revelou penosamente incompetente. Basta notar que ao apontar a nomeação da senhora mãe do senhor Tiago Antunes como directora de uma escola pública como o exemplo acabado de uma complexa teia de interesses socráticos em movimento, o senhor Carlos Santos ignorou o pequeno detalhe de a pessoa visada ter carreira feita como professora e dirigente do sistema de ensino público, e, nessa qualidade, ter já sido nomeada directora de uma (outra) escola pública era David Justino o ministro da Educação (para quem não se recorda, David Justino não foi ministro num governo socialista). Cedo piou, o senhor Carlos Santos, e todos sabemos, adulterando uma célebre frase de um prussiano falecido, que o segredo de um competente é saber estar calado o tempo suficiente.

6. Uma tetralogia de disparates. Mas não fiquemos por aqui e pela tríplice incompetência do senhor Carlos Santos; o senhor Carlos Santos não é apenas incompetente para a interpretação de factos jurídicos e humanos, para a estruturação de argumentos que se lhe podem aplicar e para a construção mental das intrigas que gera e dissemina; o senhor Carlos Santos é, também ou sobretudo, um tetra incompetente. Com efeito, de que outra forma nos é permitido qualificar um professor universitário que há pouco mais de seis meses militava no simplex, contribuindo com o seu inesgotável labor para a reeleição de José Sócrates (e para a coordenação interna do simplex), apregoando que o crescimento português iria convergir com o crescimento na UE em 2010 (pressupondo um crescimento de 1%), defendendo acerrimamente a manutenção do investimento público e a posição do governo em matéria de combate ao desemprego (isto em Dezembro), ridicularizando os fundamentos cristãos de Manuela Ferreira Leite na cruzada pela mesma movida contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, atirando-se furiosamente às posições expressas pela Igreja e católicos na sociedade civil relativamente a diversas questões fracturantes (contestando o referendo por estes exigido, afirmando tratar-se de uma «arma de remesso», e exortando o PS a não cometer o mesmo erro que havia cometido anos antes), nisto cantando loas à «derrota da "visão da direita do mercado"»?  Sim, refiro-me ao mesmo senhor Carlos Santos que agora se apresenta como liberal, católico e de direita, que puerilmente declara o seu amor pelo Papa em posts de café, que se arrependeu e não mais se assume partidário do investimento público (como se ainda existissem muitos partidários de tal coisa) ou de qualquer sugestão do actual governo, que entende que Portugal não irá convergir com coisa nenhuma e que hoje milita fervorosamente contra a homossexualidade. Sim, refiro-me ao senhor Carlos Santos que em 27 de Dezembro de 2009 se apresentava «enquanto apologista do direito ao casamento civil de pessoas do mesmo sexo»; dois dias depois, em 29 de Dezembro de 2009, questionava, sobranceiramente, e a propósito de uma notícia dando conta que a Ordem dos Médicos não considera a homossexualidade como uma doença, se «havia quem duvidasse?»; mas que em Junho deste ano se referia à homossexualidade como um estado de «desordem emocional». Sim, o mesmo senhor Carlos Santos que em 3 de Maio de 2009 mencionava Fernanda Câncio como uma «profissional conceituada» e «alvo dos mais cobardes e violentos ataques da blogosfera e da imprensa, da oposição de direita», para, há menos de uma semana, debitar isto. Enfim, o mesmo senhor Carlos Santos que nos oferece de tudo, incluindo a defesa de Otelo Saraiva de Carvalho

7. A verdade que o apóstolo Carlos Santos nos transmitiu. Não obstante o rasto de incompetência que o precede, há no entanto reconhecer que o senhor Carlos Santos tem insistentemente apregoado uma grande verdade: isto é, que os membros do simplex não contavam com ele, Carlos Santos, e com os seus princípios. De facto, algo na minha experiência de vida me diz que a generalidade dos membros do simplex (refiro-me à generalidade pois não sei quem são os Abrantes e não gosto deles), pessoas normais com simpatias políticas (infelizes, é certo), não contavam com a presença, entre eles, de pessoas sem coluna e cujos princípios omitem o respeito pela privacidade alheia. Suum cuique tribuere, ou, neste caso, ao senhor Carlos Santos que, carregado de razão, constata que os membros do simplex foram por si surpreendidos. Fomos todos, aliás.

 

Outro membro do Simplex a tentar manter Carlos Santos à distância
Fig. 2: outro membro do simplex a tentar manter Carlos Santos à distância.

8. O pouco que descobrimos e o muito que nos interrogamos. Certo é que sabemos já alguma coisa e que podemos definir com  alguma segurança dois dos traços que parecem caracterizar o senhor Carlos Santos:  Carlos Santos é, por um lado, alguém que se engana regularmente e nessa constatação muda, como quem muda de cuecas, de opinião sobre a pessoa que deve governar Portugal, o papel que a religião tem na sua vida, a teoria económica que devemos adoptar, o espaço político a que pertence e, last but not least, o conteúdo de todos os anteriores textos publicados;  e, por outro lado, alguém que regularmente elimina ou modifica posts por si escritos e consegue, com surpreendente eficácia, esconder a respectiva natureza plástica de todos aqueles que, em boa-fé, lhe dão corda, a ponto tal que as suas teorias desvairadas obtêm tímidas repercussões na imprensa. Infelizmente, aquilo que já sabemos gera novas interrogações. Afinal, como foi isto possível, questionamo-nos? Como conseguiu um louco começar no simplex e acabar a escrever no corta-fitas, um blogue de gente séria e da maior estima? Como conseguiu o senhor Carlos Santos persuadir jornalistas experientes, fazendo-os crer que a sua história tinha algum tipo de substância e novidade, e que aquilo que o próprio tem feito ficará para a história como algo distinto do mero e desolador processo de enterro da reputação do senhor Carlos Santos?

(Confesso que ao fazer estas perguntas, sinto dó. Quem, provido de coração e de um nome, teria o desplante de, em consciência, agir assim? Não serão os factos acima relatados indício de um algo muito sério que se manifesta no (ou através do) senhor Carlos Santos, porventura de foro clínico? Quem sabe se não é o senhor Carlos Santos um daqueles espíritos teóricos de poucos amigos, que calcorreiam ruas cinzentas, cabisbaixos e em passo arrastado, fechados sobre as suas econometrias e saudosos por aquilo que não viveram? E porque não se chama ele Dâmaso?)

 

Carlos Santos, depois de descobrir que a sua história não tem substrato algum, jurando vingança aos companheiros de blogue.
Fig. 3: Carlos Santos, depois de descobrir que a sua história não tem substrato algum.

9. As três coisas. Lamentavelmente, a minha vida não está para perguntas e este post vai longo e chato − e o seu tema pior ainda.  Por certas tenho  duas coisas, que julgo partilhar com muitas e boas pessoas e que o senhor Carlos Santos faria bem em recordar (agradecido): que a minha direita despreza delatores, criaturas gelatinosas e pouco masculinas que tudo fazem e penhoram por um momento de fama ou calor humano; e que no mundo da política como eu o vejo e desejo, serão sempre bem vindos adversários políticos como o João Galamba e o Guilherme Oliveira Martins, mas não haverá, junto a mim e aos meus, espaço para entusiastas convertidos da filigrana do senhor Carlos Santos.

 

Finis, laos Deo et Benfica.

 


lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

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De Paulo Pinto Mascarenhas a 25.06.2010 às 01:44

Percebo toda a essência do poste do Jacinto - ele sempre foi um bom amigo dos amigos dele - e não me sinto minimamente retratado, até porque nunca tive medo de dizer quem sou. O Carlos Santos é o mesmo de sempre na blogosfera, apenas mudou de campo, como aconteceu a outros que militam do lado de lá - e um tal de Rogério, aliás Monty, aliás Afixe, é um dos melhores exemplos. Enquanto o Carlos Santos me atacou a mim e a outros - pelo menos assinando com o seu nome, ao contrário de alguns que são aplaudidos todos os dias pela maralha - nunca li tamanha revolta ou desprezo. Já agora, quanto a mudanças e a surpresas, eu também tive uma ou duas de gente que acolhi na Atlântico e nos blogues ao longo de anos. Mas, felizmente, foram poucas.
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De Laura Abreu Cravo a 25.06.2010 às 11:02

Paulo, a questão, aqui, está nitidamente ao lado da que tu discutes. O Carlos Santos, enquanto andava na blogosfera, escrevia coisas no seu blogue. Podia mesmo exceder-se num estilo que nunca apreciei, como bem sabes. Não (mas não sei, porque não li) creio que o tenha feito no Simplex.  Contudo, ninguém (além de ti) se está a queixar de ser insultado num blogue pelo Carlos Santos, mas sim da revelação de e-mails privados e da construção de tramas de insunuações ineptas, que, caso não tenhas presente, é uma conduta ilícita e criminalmente punível. Ou bem tu achas que ele tem razão no seu comportamento ilícito e criminalmente púnivel (que é ao mesmo tempo inepto) e acreditas que o que ele tem para dizer prova alguma coisa sobre alguma pessoa;  ou então (e parece-me mais grave) estás só a legitimar a conduta torpe dele porque é dirigida a pessoas que escreveram coisas sobre ti coisas que tu achas inaceitáveis, o que equivale a dizer que achas aceitável usar qualquer meio para um acerto de contas. Já agora, as maiores defesas que foram feitas a ti, infelizmente, tu nunca as viste. Foram feitas cara a cara, como as fazem as pessoas com honra quando ouvem falar dos amigos. Não estavam escritas nos e-mails do Carlos Santos . 

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