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Atendendo a que o assunto tem sido um power play, aqui no "31", repesco uma longa relflexão (desculpem...), em versão revista e aumentada, sobre os efeitos do regresso de Portas na liderança de Marques Mendes.
Neste caso e por uma vez, ao menos nos últimos tempos, Marques Mendes não “entrou a destempo à bola”, no que a reacção política concerne: não atribuir relevo ao anúncio solene dos desígnios de Paulo Portas foi, do ponto de vista do premier laranja, a melhor atitude, como, aliás, se viu pelo que se tem passado no vizinho do lado direito.
Porém, bem vistas as coisas, creio que o regresso de Portas é imperioso num partido pequeno como o CDS-PP.
Recordo que, em 1991, Marcelo Rebelo de Sousa definiu o, então, CDS com uma simplicidade genial: é um partido pequeno porque não tem votos e não tem votos porque é um partido pequeno. Assim adivinhou o Professor aquilo que seria, e é, a elasticidade máxima de um partido que, no melhor, pode aspirar a potencial coligativo e, no pior, à sobrevivência.
Portas parece dar a capacidade de percorrer a "extra mile", de ir mais longe; é carismático, inteligente, moderno na expressão, conservador na autoridade e já percebeu o filme mediático, há anos.
Fecha-se a tenaz, portanto.... O Engenheiro Sócrates aperta no lado social (veja-se o Estado na Educação, na Segurança Social, na RTP2, etc...) e pelo lado liberal (Simplex, internacionalização, parcerias em grandes obras públicas, emagrecimento da Administração Pública) e Portas promete mais do mesmo: liderança carismática e autoritária, quando preciso, liberalismo na Economia e conservadorismo de Estado em algumas vertentes “assistencialistas” (ou seja, no Estado Providencial ou mesmo “providencial”).
No fundo, nos dois extremos da área política do PSD, há duas lideranças com ideias que entram pelo mar laranja adentro, tanto mais quando se constata que, numa democracia inexoravelmente mediática, comunicam com mais eloquência do que qualquer dos rostos visíveis (e não são muitos…) do politburo da S. Caetano à Lapa.
No meio, resumindo, vejo uma liderança do PSD que, por muito séria que possa ser, não está compaginada com o tempo mediático. Creio que entre a fase quase eufórica do período santanista (mea culpa, com certeza) e o cinzentismo oficial de hoje, há que procurar um meio-termo que liberte o PSD do espartilho que lhe impõem PS e PP.
No último congresso disse (quando muitos dos nomes consagrados se calaram ou fizeram discursos a meio campo) que os partidos não são eternos, e o PSD muito menos, já que tem uma matriz nacional muito própria, não tendo nascido como prole natural de uma das grandes famílias ideológicas internacionais e, assim, não desfrutando do inerente lastro institucional. A histórica cisão do tempo de Sá Carneiro, por exemplo, poderá ser irrepetível, já que não só os tempos não são os do pós-25 de Abril, em que os portugueses transpiravam e comiam política, como a liderança actual não tem o carisma do fundador do PPD, não se augurando que consiga agarrar o leme, caso haja borrasca do género.
Por outro lado, se for permitida a erosão progressiva das arribas ideológicas social-democratas, ora à esquerda, ora à direita, o espaço eleitoral perdido pode ser irrecuperável, pelas razões a que aludi. Basta ir a Espanha para ver um partido de nome sonante que se finou (falo, claro está, da agremiação liderada por Adolfo Suárez), isto se não quisermos fazer a crueldade de “andar por aí”, recordando o naufrágio do PRD de Eanes, digo Doutor Eanes.
Contudo, não entendo que devamos dramatizar em excesso a volta à tona do brilhante Paulo Portas. O facto que o reclama será o facto que o matará, já que os fenómenos políticos excessivamente personalizados (e, logo, debilmente institucionalizados) perecem com a capacidade de auto-renovação do "chefe da banda" (como diria Ribeiro e Castro); veja-se o Bloco de Esquerda, em relação ao qual as pessoas começam a vomitar Louçã pelos ouvidos (“aleluia”, permitam-me acrescentar, em homenagem ao assomo de lucidez de alguns dos portugueses que ainda se iludiram com o proletariado de salão).
Diferente seria o futuro se o dr. Santana decidisse criar com Portas um novo partido. Porém, não acredito nisso, nos próximos tempos. COmo se viu na Assembleia da República, ontem, o dr. Santana prefere continuar a desarrumar as prateleiras que conhece bem e onde insiste em não ser colocado. Surpreender-me-ia o arrojo real de avançar para novas formações, divertir-me-iam os tempos seguintes…
Quanto ao dr. Mendes, seria útil que não confundisse desprezo táctico (certo) com autismo estratégico (errado). Uma coisa é certa: "um dia a casa vem abaixo"...