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Agora mais a sério

por Henrique Burnay, em 26.03.07
Dizer que Salazar ganhou porque não se ensina o suficiente sobre os males do Estado Novo e do chefe é um dos maiores erros na discussão sobre os resultados dos Grandes Portugueses. E é uma mentira. O Estado Novo foi sempre ensinado a preto e branco, o mal é esse. O Estado Novo nunca foi discutido em Portugal. É dogma, é ponto assente que foi um horror, não é possível ter uma conversa sobre o assunto. Quando a história é contada a duas cores, com bons de um lado e vilões do outro, como nos filmes manhosos, há sempre quem prefira ficar do lado do bandido. É diferente.
As coisas complexas discutidas como se fossem coisas simples dão facções. E esse não é um problema deste programa.


lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

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De limbo a 26.03.2007 às 12:06

Enquanto esteve preso Cunhal tirou um curso de direito, desenhou, pintou, escreveu e traduziu Shakespeare e ainda há quem diga que a Pide não era incompetente!
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De ines a 26.03.2007 às 20:45

muito bem dito! tenho vinte anos, ou seja terminei o 12º ano há relativamente pouco tempo (três anos), sempre tive professores de história bons, uns melhores que outros, mas é assim em todo o lado, com todas as disciplinas leccionadas! lembro-me perfeitamente da matéria que me foi ensinada no 12º ano! começámos pelo fenómeno da industrialização mundial, primeira guerra, comunismo no leste, economia americana crash e consequente recuperação), segunda guerra, guerra fria, mais economia mundial, estado novo e 25 de abril . quando chegámos ao tópico do estado novo, deu-se uma aceleração nas aulas que quando dei por mim as aulas já haviam terminado e estávamos à porta dos exames. não critico o meu professor, pois sempre o considerei um excelente docente (apesar das baixas notas que me dava, mas eu nunca fui de estudar! lol ), sinceramente não sei quem deve ser culpado! a verdade é que, queiramos ou não, mesmo os professores não conseguem ser completamente objectivos (coisa que por acaso o meu até era!), imparciais, sobretudo quando lhes toca no coração. talvez seja por isso que se adoptou o tratamento a preto e branco! a ditadura por definição deve ser considerada diabólica, salazar estabeleceu uma ditadura, pela lógica salazar é diabólico. apesar de tudo (e talvez por ser nova e não ter vivido naquela era) consigo ter uma visão mais, vamos lá, objectiva do estado novo. e sim foi uma coisa má, atrasou-nos como país e civilização, privou-nos das liberdades essenciais de expressão e até de pensar, pelo facto de nos ter, de algum modo, afastado do resto do mundo. no entanto não duvido um só segundo das boas intenções de salazar ! era um exímio economista e tinha visão para o futuro. as suas prioridades eram lógicas, tratar da dívida externa, contudo, ao fazê-lo, "esqueceu-se" de tratar de outros assuntos importantes, como a alfabetização da população (esqueceu-se? claro que não! até lhe convinha que fossemos cegos e burros para não haver revoltas). muitas pessoas o defendem porque nos manteve fora da segunda grande guerra. eu não. o plano marshall tinha-nos dado um jeitão! i kid , i kid .
para terminar - não sou de direita, não sou de esquerda, sou de extrema esquerda, sem partido (simpatizo com o pc , pois claro), mas sei que há muitos que, como eu, vão concordar com o que o henrique escreveu! o homem sabia do que falava sim, mas era de economia.
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De André de Soure Dores a 28.03.2007 às 12:35

No programa televisivo em questão, muito vocacionado para o entretenimento mas também para alguma divulgação e debate, ficou em 1º lugar o Prof. Oliveira Salazar. Com 41 % de mais de 210 mil votos. Apesar de tudo, não devemos ser alarmistas nem ficar excessivamente receosos no que diz respeito a um crescimento das preferências por experiências políticas não democráticas (nunca é descabido sublinhar que o Estado Novo não é sinónimo de Fascismo! É historicamente pouco rigoroso e politicamente não muito sério insistir nessa ideia, o que não retira o carácter ditatorial do Salazarismo, como é inegável).
O voto em Salazar foi uma miscelânea certamente. Entre partidários de regimes autoritários e ditatoriais, mas sobretudo de pessoas que não queriam que Cunhal vencesse e dos descontentes com a política contemporânea, não unicamente com o actual governo mas com a política e a situação actuais de uma forma geral.
Como já foi dito o esquema de votação não foi cientificamente rigoroso, verificou-se a tendência generalizada (não só no programa português) por votações em personalidades do séc. XX, por estarem mais próximos no tempo naturalmente, secundarizando épocas e "personagens" mais recuadas.

O ensino do Estado Novo nas escolas portuguesas ou é dado de uma forma muito superficial e pouco aprofundada ou é abordado de uma forma completamente tendenciosa e maniqueísta: de um lado os maus fascistas e do outro os resistentes e combatentes pela Liberdade! Ora quer uma ideia quer outra ficam a dever bastante à verdade, isenção e rigor históricos. O Estado Novo, como já referi não é o mesmo do que fascismo em Portugal, foi uma ditatura corporativista, foi um regime conduzido por um ditador, que aliás não tinha só defeitos, mas desprezava efectivamente a democracia e o liberalismo(sobretudo aquele que tinha experimentado na Iª República). Reforça esta ideia a existência de uma força política, se em rigor assim se pode apelidar, denominada "Camisas Azuis" liderada por Rolão Preto que foi a face visível do nacional-sindicalismo enquanto expressão do fascismo em Portugal (aliás fisicamente muito semelhante a Adolf Hither...). No grupo dos "bons" inclui-se geralmente o PCP e Álvaro Cunhal, que tinha como projecto político a substituição da ditadura de contornos salazaristas/marcelistas por uma outra de silhueta... bolchevique! Ora que ideia de democracia tinha (e tem) o PCP...

Mais uma vez graves problemas na Educação que acabam, de uma forma ou de outra, por afectar e condicionar gravemente o País. Desta vez é o efeito de uma visão distorcida, redutora e a preto e branco de uma época histórica que teve uma palete de cores tão diversificada como qualquer outra.
O resultado não é a apologia do fascismo, como gritou Odete Santos em estúdio, é um aviso e uma lição aos pseudo-democratas actuais, incluindo a própria mas a muitos outros...

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