De João. a 15.08.2010 às 17:59
Nós comparamo-nos com a Alemanha, mas quantos de nós se dispõem a "ser" alemães? E até parece que este "atraso" é coisa nova.
Quando Lisboa foi inundada de especiarias e ouro, nem por isso se desenvolveram as indústrias da época, que é dizer, as manufacturas , nem sequer o retalho, e nem por isso se desenvolveram especialmente as universidades em vista dos saberes técnicos, fomos, acima de tudo, intermediários de insumos para o desenvolvimento das indústrias e comércios do norte da Europa e fidelíssimos aderentes ao paradigma escolástico.
Não digo que isto seja ou deixe de ser bom, já que é um julgamento complicado.
Mas hoje, sem império, somos, economicamente, o resultado de nossas tendências históricas e, se têm razão de queixa, o que fazem, então, para inverter ou transformar estas tendências?
Agostinho da Silva dizia que o português alberga "tranquilamente, variadas contradições impenetráveis, até hoje, ao racionalizar de qualquer pensamento filosófico", de modo que, pergunto-me, se algo destas contradições não se manifesta quando queremos ser alemães nas férias ou nos centros comerciais, desejando ter mais poder de compra, ao passo que, no trabalho, somos muito pouco alemães, aliás, não queremos mesmo ser alemães. E porque haverão de "ser" alemães os nossos empresários e os nossos políticos, quando, nós, de nossa parte, o não queremos ser?
Acho que o que queremos é que o vizinho "seja" alemão, desenvolva a economia, enquanto nós permanecemos portugueses.
Em conclusão, se o autor do "post " quer que Portugal seja a Alemanha, talvez deva começar por se tornar, ele mesmo, alemão. Se, pensando duas vezes, preferir ser português de que vale queixar-se de que não "somos" alemães? Ou seja, o debate talvez deva incidir sobre a questão: queremos "ser" alemães?
Cumprimentos.