por Henrique Burnay, em 27.03.07

Vi ontem, com lamentável atraso, a
Vida dos Outros (o que, em parte, explica o espírito com que vi o concurso da RTP). O filme é excelente por várias razões. Para mim, por três razões (ou talvez mais).
Porque nos tenta convencer de que os homens podem melhorar, que pode haver uma epifania mesmo num torcionário. E isso é bonito.
Porque conta a história de homens com menos coragem do que a que gostariam de ter e de homens bons que traem (no caso, uma mulher).
Porque mexe em feridas, porque fala de um tempo do qual ainda deve ser difícil falar, e tem o atrevimento de imaginar um Stasi que se torna bom, um mau que se transforma quando descobre, nos outros, vida. (Imaginem que alguém escrevia um filme onde um pide péssimo bom salvava a pele de um intelectual de coragem duvidosa traído pela sua mulher egoísta). A Drª Odete e as restantes virgens teriam uma síncope.
Porque tem uma fotografia bonita, fria.
E porque tem um título que diz tudo. Eu, que não gosto de quem gosta da vida dos outros (mas que gosto de espreitar para dentro das casas com enormes janelas nas ruas de Amesterdão), gosto de um filme que enuncia o mal com a simplicidade do título deste filme.