De pequeno burguês a 03.04.2007 às 08:51
Caro Mário Tomé,
Se é de facto o sinistro Major da nossa história mais recente eu preocupar-me-ia mais com o seu próprio papel nessa mesma história, não aquele mini-pedestal onde toda a extrema-esquerda se auto-colocou aquando do PREC e dos anos seguintes, mas o papel que a história vos irá reservar quando houver suficiente perpectiva para vos enquadrar correctamente. Lembre-se que alguém disse um dia que "a comédia é a tragédia mais o tempo". E os senhores foram tragédia durante tanto tempo...
Por que é que o senhor mais os seus correlegionários, que são tão lestos a tachar todos os demais quanto às suas nefandas intenções, nunca disseram verdadeiramente o que pretendiam com o 25 de Abril, ou melhor, com o PREC e com o 11 de Março?
O que queriam vocês fazer de Portugal?
De Mário Tomé a 03.04.2007 às 12:06
Caro pequeno burguês
(pequeno da parte da mãe e burguês da parte do pai; ou vice-versa, como em Espanha?)
A sinistralidade do major e dos outros como ele depende do ponto de vista. Para uns foram sinistros, para outros salvadores. Nem uns nem outros tinham razão.
Se quiser ser um razoável pequeno burguês reconheça que quem tachou foi V.. Eu limitei-me a…enumerar os factos genéricos da tragédia e a usar a qualificação adoptada para algumas tendências, políticas e ideologias. A tragédia a que me refiro nunca poderá ser comédia com o tempo por mais que V. e a RTP se esforcem.
Se quiser ser um pequeno burguês realmente interpelante, e não lançar umas datas à toa para o ar, deve ter em conta que o fascismo e o colonialismo estavam agarrados à guerra colonial como o enforcado à corda: a guerra era a sua perdição e a guerra era a sua salvação. Daí que o 25 de Abril, afinal, os tenha tirado dessa situação pouco cómoda e até, mesmo, indigna. E como se viu, contas feitas quem se lixou? Eles não que rapidamente se “regeneraram” e, como os nenúfares, vão cobrindo e evenenando as águas, chegando mesmo a perturbar os pequeno-burgueses. Quem se lixou foram os capitães da Abril (para seu gáudio ou, apesar de tudo, tristeza?) e aquela entidade que todos querem proteger para a lixarem quando ela se assume, rompe as muros e ameaça usar o poder: o povo.
Mas agora reparo que a sua preocupação é a extrema-esquerda. Está feita a prova: você é de facto pequeno burguês, desculpe se duvidei.
A esquerda a que você chama extrema, se quer que lhe diga, tentou que a esperança de milhões não fosse liquidada, como foi, pelos pequenos burgueses a reboque dos burgueses e dos burguesões, que já se tinham livrado dos fascistas que lhes travavam a expansão dos negócios. Isto usando o jargão adequado.
A questão da esquerda é, no entanto, mais interessante e mais subtil.
Mas isso, pelo seu tom, não me parece que lhe interesse, meu caro pequeno burguês que gosta de quem ponha ordem nisto, e pelos vistos acha que Portugal é aquilo que alguns vão fazendo dele. Erro de palmatória, pois os cidadãos desta terra, em conjunto e contraditoriamente, a correr ou aos trambolhões é que o fazem.
Quanto ao papel que a história reserva, etc., o distanciamento já não é o que era. A história faz-se como sempre a cada momento, está a fazer-se e a ambição dos historiadores é investigá-la em tempo, para que seja útil ao seu próprio desenvolvimento.
Numa coisa talvez tenha V. razão: um certo distanciamento assegura que a história é descrita, manipulada e apropriada pelos vencedores. Ou seja, isto não é a feijões. Trata-se de uma luta a sério.
De Mário Tomé a 03.04.2007 às 12:07
Caro pequeno burguês
(pequeno da parte da mãe e burguês da parte do pai; ou vice-versa, como em Espanha?)
A sinistralidade do major e dos outros como ele depende do ponto de vista. Para uns foram sinistros, para outros salvadores. Nem uns nem outros tinham razão.
Se quiser ser um razoável pequeno burguês reconheça que quem tachou foi V.. Eu limitei-me a…enumerar os factos genéricos da tragédia e a usar a qualificação adoptada para algumas tendências, políticas e ideologias. A tragédia a que me refiro nunca poderá ser comédia com o tempo por mais que V. e a RTP se esforcem.
Se quiser ser um pequeno burguês realmente interpelante, e não lançar umas datas à toa para o ar, deve ter em conta que o fascismo e o colonialismo estavam agarrados à guerra colonial como o enforcado à corda: a guerra era a sua perdição e a guerra era a sua salvação. Daí que o 25 de Abril, afinal, os tenha tirado dessa situação pouco cómoda e até, mesmo, indigna. E como se viu, contas feitas quem se lixou? Eles não que rapidamente se “regeneraram” e, como os nenúfares, vão cobrindo e evenenando as águas, chegando mesmo a perturbar os pequeno-burgueses. Quem se lixou foram os capitães da Abril (para seu gáudio ou, apesar de tudo, tristeza?) e aquela entidade que todos querem proteger para a lixarem quando ela se assume, rompe as muros e ameaça usar o poder: o povo.
Mas agora reparo que a sua preocupação é a extrema-esquerda. Está feita a prova: você é de facto pequeno burguês, desculpe se duvidei.
A esquerda a que você chama extrema, se quer que lhe diga, tentou que a esperança de milhões não fosse liquidada, como foi, pelos pequenos burgueses a reboque dos burgueses e dos burguesões, que já se tinham livrado dos fascistas que lhes travavam a expansão dos negócios. Isto usando o jargão adequado.
A questão da esquerda é, no entanto, mais interessante e mais subtil.
Mas isso, pelo seu tom, não me parece que lhe interesse, meu caro pequeno burguês que gosta de quem ponha ordem nisto, e pelos vistos acha que Portugal é aquilo que alguns vão fazendo dele. Erro de palmatória, pois os cidadãos desta terra, em conjunto e contraditoriamente, a correr ou aos trambolhões é que o fazem.
Quanto ao papel que a história reserva, etc., o distanciamento já não é o que era. A história faz-se como sempre a cada momento, está a fazer-se e a ambição dos historiadores é investigá-la em tempo, para que seja útil ao seu próprio desenvolvimento.
Numa coisa talvez tenha V. razão: um certo distanciamento assegura que a história é descrita, manipulada e apropriada pelos vencedores. Ou seja, isto não é a feijões. Trata-se de uma luta a sério.