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Salazar, o sms e a ignorância por bandeira

por Rita Barata Silvério, em 02.04.07

Como se podia esperar, a eleição do Salazar como o melhor português de sempre teve o seu eco em Espanha. Pelos vistos o segundo canal da televisão pública apresentou o nosso Portugal como um país de analfabrutos, brutamontes imbecis sem qualquer recordação da historia, pobres e infantis, desesperados por um líder forte, carentes de pai e quanto menos amorais. É curioso ver como a Historia perde a maiúscula, se banaliza em sms, em programinhas de domingo à noite e mais curioso ainda é observar como esta Espanha, que tanto medo tem de se debruçar na sua própria Historia, se ergue perante o quotidiano televisivo do vizinho. Explico-me: há tanto pudor em Espanha em relação ao franquismo, tanto respeitinho acagaçado pela Transição, que o relativismo é agora palavra de ordem. Tanto para a direita para a esquerda. Quando a Historia é tratada com pinças acontece que a Guerra Civil foi ganha pelos maus, o Franco matou mais que o Hitler, o Rei Juan Carlos é um bananas e todos os descendentes dos ministros da ditadura devem ser pendurados pelos tomates. Ou então as Sete Leis Fudamentais foram ditadas por Deus, os comunas comem meninos e o País Basco é um ninho de terroristas anti-pátria. Palavra de honra que já não posso ver bandeiras republicanas na Puerta del Sol nem manifestações onde a extrema direita brama pela Espanha “una, grande y libre”. Se não os conhecesse achava que os espanhóis são simplesmente estúpidos. Mas não são, como também não considero que Portugal seja um ninho de fascistas só porque na RTP o Salazar ganhou um concurso da treta. Mas, claro, é mais fácil ser preguiçoso e ter a Historia simplificada em bandeiras, mensagens de telemóveis e manifestações pagas pelos manipuladores do ontem que ter coragem e tratar o passado por tu.


lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

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De Mário Tomé a 03.04.2007 às 12:06

Caro pequeno burguês
(pequeno da parte da mãe e burguês da parte do pai; ou vice-versa, como em Espanha?)
A sinistralidade do major e dos outros como ele depende do ponto de vista. Para uns foram sinistros, para outros salvadores. Nem uns nem outros tinham razão.
Se quiser ser um razoável pequeno burguês reconheça que quem tachou foi V.. Eu limitei-me a…enumerar os factos genéricos da tragédia e a usar a qualificação adoptada para algumas tendências, políticas e ideologias. A tragédia a que me refiro nunca poderá ser comédia com o tempo por mais que V. e a RTP se esforcem.
Se quiser ser um pequeno burguês realmente interpelante, e não lançar umas datas à toa para o ar, deve ter em conta que o fascismo e o colonialismo estavam agarrados à guerra colonial como o enforcado à corda: a guerra era a sua perdição e a guerra era a sua salvação. Daí que o 25 de Abril, afinal, os tenha tirado dessa situação pouco cómoda e até, mesmo, indigna. E como se viu, contas feitas quem se lixou? Eles não que rapidamente se “regeneraram” e, como os nenúfares, vão cobrindo e evenenando as águas, chegando mesmo a perturbar os pequeno-burgueses. Quem se lixou foram os capitães da Abril (para seu gáudio ou, apesar de tudo, tristeza?) e aquela entidade que todos querem proteger para a lixarem quando ela se assume, rompe as muros e ameaça usar o poder: o povo.
Mas agora reparo que a sua preocupação é a extrema-esquerda. Está feita a prova: você é de facto pequeno burguês, desculpe se duvidei.
A esquerda a que você chama extrema, se quer que lhe diga, tentou que a esperança de milhões não fosse liquidada, como foi, pelos pequenos burgueses a reboque dos burgueses e dos burguesões, que já se tinham livrado dos fascistas que lhes travavam a expansão dos negócios. Isto usando o jargão adequado.
A questão da esquerda é, no entanto, mais interessante e mais subtil.
Mas isso, pelo seu tom, não me parece que lhe interesse, meu caro pequeno burguês que gosta de quem ponha ordem nisto, e pelos vistos acha que Portugal é aquilo que alguns vão fazendo dele. Erro de palmatória, pois os cidadãos desta terra, em conjunto e contraditoriamente, a correr ou aos trambolhões é que o fazem.
Quanto ao papel que a história reserva, etc., o distanciamento já não é o que era. A história faz-se como sempre a cada momento, está a fazer-se e a ambição dos historiadores é investigá-la em tempo, para que seja útil ao seu próprio desenvolvimento.
Numa coisa talvez tenha V. razão: um certo distanciamento assegura que a história é descrita, manipulada e apropriada pelos vencedores. Ou seja, isto não é a feijões. Trata-se de uma luta a sério.

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