31 da Armada

Luís Naves aborda aqui o problema do Wikileaks. A sua análise parece-me certeira. Estas fugas de informação constituem um crime gravíssimo contra a segurança dos Estados Unidos, com a revelação de colaboradores em territórios hostis, informações secretas que só diplomatas americanos deveriam ter conhecimento, ou até "gossips", como características psicológicas de líderes estrangeiros, que afectam as relações com diferentes países, aliados ou não. Tenho poucas dúvidas que os autores deste crime (ainda não é certo que tenha sido apenas um soldado) irão passar longas temporadas na prisão. Não escapam ao crime de traição e espionagem. A perseguição judicial a Julian Assange, que é cidadão australiano, nunca será fácil para o Departamento de Justiça americano. Tenho lido versões contraditórias, mas não por acaso nesta última semana muito se falou em criar nova legislação para combater este tipo de situações. Mas ao publicar e contribuir para a fuga de informações lesivas para os interesses americanos, Assange não terá vida fácil. A justiça da Suécia e os processos de violação não serão as suas únicas preocupações. É considerado inimigo dos Estados Unidos, e será tratado como tal.

Mas estas fugas representam também, como o Luís Naves disse, um problema sério para Barack Obama. Estas são as terceiras revelações prejudiciais para os Estados Unidos durante o corrente ano, e apenas agora a Administração começa a acordar para este problema. Tarde de mais, diga-se, pois esta vaga de informações, atinge em cheio aquilo que Obama mais clamou durante a campanha eleitoral: a credibilidade dos Estados Unidos no mundo. Não por revelarem alguma conspiração macabra, mas por acabarem com a relação de confidencialidade entre EUA e outros países, valor esse tão importante nas relações diplomáticas. Quem será o próximo árabe a confiar em diplomatas americanos? E quem no Iémen ou Afeganistão arriscará agora passar informações aos americanos, correndo o risco de ver o seu nome aparecer num site qualquer? Se estas revelações tivessem acontecido durante a Administração Bush, imagine-se o que não teria sido dito. “Bush é incompetente, “os EUA não sabem guardar segredos” e a “demissão do Secretário de Estado” já teria sido reclamada em uníssono por Democratas. Obama tem recebido um tratamento mais favorável, mas é inevitável que venha a ser duramente atacado na próxima campanha presidencial, especialmente se este tipo de informações secretas continuarem a ser divulgadas nos próximos meses. Os republicanos, que têm adoptado uma retórica bastante agressiva em relação a Julian Assange, aos traidores americanos que forneceram as informações e à fragilidade do Departamento de Estado, não deixarão de utilizar este tema em campanha eleitoral. Com a crise económica a não dar sinais de recuperação, a previsão que o desemprego manterá níveis elevados em 2012 e a guerra do Afeganistão a não demonstrar grandes progressos, esta crise de confiança no Departamento de Estado, poderá ser demais para Obama aguentar nas próximas presidenciais. Se a situação não evoluir positivamente em nenhuma destas “frentes”, restará a Obama rezar para que os republicanos nomeiem Sarah Palin. Com a Economia e a Política Externa e Segurança Nacional a favorecer o lado dos republicanos, será mesmo preciso um milagre para Obama se aguentar.