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Desta vez o Governo tem carradas de razão em se indignar.
E passo a explicar porquê.
1) À luz do direito internacional e, para o caso em questão, nas leis que regem a Organização Internacional da Aviação Civil (ICAO) - organismo da ONU - não existe qualquer disposição que obrigue (ou sequer recomende) a qualquer Estado Membro, saber a identidade ou a situação de todos os passageiros que passarem em trânsito pelos seus aeroportos ou sobrevoarem o seu espaço aéreo.
2) À luz do mesmíssimo direito internacional (consubstanciado para a aviação nos Anexos da referida ICAO), qualquer Comandante-piloto de um avião tem o direito de alterar o seu plano de voo submetido (por razões técnicas de gestão de tráfego aéreo) a qualquer "Região de Informação de Voo" (FIR) de um Estado. Para que tudo isto fique perceptível: se um "plano de voo" de um qualquer jacto executivo tiver origem, por exemplo, em Ciampino (Itália), com escala em Santa Maria (Açores) e destino a Nova York (EUA), nada impede esse Comandante-piloto de em pleno voo informar - e por estritas razões técnicas, repito - uma "FIR" (de Santa Maria ou da nossa vizinha "FIR" de Nova York) de que afinal não vai para lá, mas para Guantánamo, Punta Cana ou para qualquer praia das Caraíbas.
3) Assim sendo, e como a "WikiLeaks" divulgou supostamente uma "mensagem" do Embaixador dos EUA em Lisboa a "solicitar" ao nosso Governo passagem de prisioneiros da guerra do Afeganistão pelos nossos aeroportos, só posso encontrar dois motivos para tão insólita mensagem: ou o Senhor Embaixador estava com um copito a mais, ou então não tinha a menor noção do que seja o Direito Aéreo (hipótese mais provável).
4) Durante os anos 90, por razões profissionais e na minha qualidade de membro da Comissão Nacional de Facilitação e Segurança do Transporte Aéreo (a chamada "FALSEC", integrando representantes da Força Aérea, PJ, GNR, SEF, PSP, etc) chegaram ao nosso conhecimento dois factos: de um avião da "Cubana" que escalava em trânsito o aeroporto da Portela, tinham fugido do Ilyushin dois cubanos que após saltarem a vedação do aeroporto tinham desaparecido na noite de Lisboa; foi-nos dito, embora informalmente, que os tais dois cubanos iam de regresso a Cuba na condição de presos por serem "perigosos deliquentes" - razão pela qual as autoridades policiais tinham de os encontrar e "devolver". Mas nessa altura nem os Cubanos tiveram a lata de invocar o "direito aéreo internacional", nem ninguém se lembrou de acusar o Governo por "deixar passar" presos pelos nossos aeroportos!
5) Como este episódio até apareceu (embora como "pequena notícia" e sem pormenores), em alguns jornais portugueses e a tal "esquerda moral e dos direitos humanos" nada disse ou criticou então, só podemos hoje confirmar aquilo que a maioria dos portugueses já percebeu:
há gente que em política continua a ter "dois pesos e duas medidas", que "todos os meios justificam os fins".
Traduzindo estas idei
a s p a r a t r o c o s p o l í t i c o s : t u d o o q u e é a n t i - a m e r i c a n o , é b o m ! ! !