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Esta noite, através do sentido de oportunidade da Teresa Caeiro na Sic-Notícias, Portugal lembrou-se do que, de resto, o Carlos Nunes Lopes já tinha "revelado" aqui 31 da Armada: Manuel Alegre recebeu dinheiro para fazer publicidade. A um banco. Ao Banco Privado Português. Enquanto era deputado. E isso lhe era proibido (alínea f) do n.º 6 do artigo 21º do Estatuto dos Deputados).
(ampliação clicando na imagem)
Gostava de ver Alegre explicar isto, em nome do "país limpo" que anda para aí, de peito insuflado e voz gutural, a exigir. E não vale dizer que, dado o teor da publicidade em causa, nela participou, não como deputado, mas enquanto caçador.
Explicar significa revelar e demonstrar, por exemplo:
a) se participou na campanha do BPP ao abrigo de alguma lei especial que se lhe aplicasse em derrogação do Estatuto (cfr. n.º 6 do artigo 21º) - não estou a ver qual, mas nunca se sabe;
b) se a comissão parlamentar competente em matéria de aplicação do Estatuto dos Deputados o notificou para pôr termo à situação no prazo de 30 dias (cfr. n.º 7 do artigo 21º);
c) se viu o mandato suspenso enquanto durou a sua participação na campanha publicitária (cfr. n.º 8, primeira parte, do artigo 21º);
d) e se repôs o montante do salário de deputado que auferiu enquanto durou essa participação (cfr. n.º 8, segunda parte, do artigo 21º).
Adenda: pelos vistos, a explicação "oficial", que já vem de 2008, é a seguinte: a BBDO, agência de publicidade, pediu a Manuel Alegre um texto sobre a sua relação com o dinheiro. Alegre, um bonacheirão solícito, lá escreveu e entregou o dito, sem perguntar para que efeito os senhores da BBDO, agência de publicidade - de publicidade - o queriam. Quando mais tarde abriu uma revista e viu o texto, acompanhado da sua assinatura e caricatura, alojados numa publicidade ao BPP, pensou "ai, os malandros" e toca a ligar-lhes para suspenderem essa sua surpreendente participação sem aviso prévio.
Que dizer deste arremedo de justificação? Desde logo, que deve ser dada a Manuel Alegre a oportunidade de, digamos, aperfeiçoar a coisa. É que se esta explicação é para manter, então o candidato é um caso sério de charlatanice. Quer Alegre convencer-nos de que a BBDO, provavelmente a agência de publicidade mais conhecida do mundo, lhe pediu e pagou para que escrevesse um texto sobre dinheiro sem lhe especificar qual o destino do mesmo? Quer Alegre convencer-nos de que a BBDO lhe pediu e pagou um texto sobre dinheiro sem que aquele indagasse qual o fim do pedido? Quer Alegre convencer-nos de que a maior agência de publicidade do mundo lhe pediu e pagou um texto sobre dinheiro e o autor nem sequer suspeitou de que o texto serviria seguramente para uma campanha publicitária, provavelmente de um banco?
Será que Manuel Alegre acha que os seres humanos, com a sua singular excepção, são todos estúpidos? Sim, sim, Alegre tem de explicar isto muito bem. Porque tudo aponta para que seja um mentiroso puro e simples - ou, pelo menos, que se tenha pontualmente portado como tal, para encobrir uma situação de ilegalidade, consciente ou negligente.
Adenda 2 (10h30): Em directo na TSF, Manuel Alegre manteve na íntegra a justificação. Cada um que a julgue por si. Entretanto, Nuno Artur Silva, director das Produções Fictícias, apresentador do Eixo do Mal e também ele um dos participantes na campanha do BPP, disse, igualmente à TSF, que ninguém o informou de que o seu texto seria para uma campanha publicitária ao banco, mas apenas que seria semanalmente publicado numa página da revista do Expresso que teria o patrocínio do BPP (um patrocínio semelhante, disse ele, ao de um programa de rádio). O único comentário que posso tecer é que não vejo qual a diferença prática, principalmente porque nunca vi semelhante coisa: uma página jornalística "patrocinada" por uma determinada marca ou empresa? Nem sei como é que essa ideia - que, de facto, conhecemos da rádio e da televisão - tem transposição para a imprensa. Continua tudo muito estranho. Por outro lado, Pacheco Pereira, outro dos participantes, disse à TSF que sabia, desde o início, que se tratava de uma campanha publicitária do BPP.
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