por Henrique Burnay, em 09.04.07
João,
percebo o comentário, mas discordo.Podia até ser cínico e dizer que quando toca aos “nossos” desatamos a achar que é pouco patriótico discutir estas e não as grandes questões. Mas por alguma razão, imagino que és sincero no que dizes. Portanto, aqui vai uma resposta séria.
Eu, e o resto do mundo ao que parece, não acho relevante se o Primeiro-ministro é licenciado ou não. Nem acharia dramático que um tipo qualquer que tivesse duas ou três cadeiras penduradas para se licenciar, num país onde isso é relevante, resolvesse ir fazê-las onde fosse mais fácil. Era grave mas, bolas, copiar num exame também é e o que não falta para aí é professor doutor que tenha cabulado numa ou noutra cadeira (em matéria de virgens morais este recanto é quase um deserto). O problema é que começa a parecer que o nosso José Sócrates achou, quando já levantava voo a sua carreira politica, que tinha de concluir a licenciatura. E, se o que parece for, fê-lo de forma mais rápida mas menos séria, conseguindo com uns truques obter um diploma que, parece, não merecia. E isso já é grave. Um político que já crescidinho usa de uns conhecimentos que o poder facilita para obter um diploma académico que lhe suavize a ambicionada carreira, isso e mau. É mau de carácter, é mau de escrúpulos e é mau porque revela qual o conceito que se tem do uso e abuso do poder. E por isso merece crítica, porque não é meramente do domínio do anedótico.
Só mais uma coisa. Em alguns países, como Portugal, mentir, nomeadamente mentir perante o Estado, não é socialmente desconsiderado (comece-se pelo não pagar impostos e vá-se por aí adiante). E essa é parte do problema. Quando se discutia se Clinton tinha encharcado ou não o charuto no sítio que escolheu, para muitos americanos o importante não era o charuto nem o humidificador mas sim o facto de, questionado, ter mentido. Eu não estou a dizer que gostei da saga moralista desse episódio - às vezes convém explicar - estou a dizer que por cá damos pouco valor à verdade e, portanto, pouco desvalor à mentira.
De resto, os jornais são grandes, os telejornais compridos e os blogs longos, cabe lá a OTA, o TGV o Flat Tax e o putativo diploma do Primeiro-ministro.