por Laura Abreu Cravo, em 10.04.07
No decurso de toda a polémica que tem envolvido a (alegada) —ou falta de — licenciatura de José Sócrates li e ouvi várias pessoas que declaravam que não era relevante que um primeiro ministro fosse licenciado. Naturalmente, algumas delas pretendiam apenas frisar que o ponto essencial desta polémica é, não o facto de José Sócrates ser licenciado ou não, mas sim (i) o facto de poderem ter sido concedidas condições especiais na obtenção de um diploma, com eventual recurso ao aligeiramento do plano curricular e frequência das aulas e (ii) o facto de ter, eventualmente, mentido aos país. Concordo que estes são, sem margem para discussão, os pontos essenciais, porque, com bem lembra o Henrique,
aqui em baixo, estes são factos reveladores não apenas da verdade da formação académica do Primeiro Ministro mas, essencialmente, do seu carácter.
De tudo isto não pode, contudo, retirar-se a irrelevância da formação superior de um Primeiro-ministro. Sei bem que a história tem à nossa disposição um número bastante de exemplos de não literatos competentíssimos, mas também sei que na ausência do critério perfeito tem de se ter um critério que seja, ao menos, adequado. Vamos longe dos dias em que a qualidade de um chefe de governo se reconhecia pela sua destreza num campo de batalha, e para o que hoje releva, à falta de disponibilidade para os diversos sistemas que operem por tentativa/erro, o curriculum académico parece-me a forma mais eficaz para distinguir o trigo do joio. Dir-me-ão que há muitos atrasados mentais com um curso superior? Concedo. Mas, na falta de critérios infalíveis, o facto de alguém que aspira a primeiro-ministro ter uma licenciatura, diz-nos, ao menos, que esse alguém teve, ao longo do seu percurso escolar e académico, de reunir determinadas qualidades (se o sistema de ensino tiver funcionado como é suposto) e que teve, ao menos, de ler, escrever, pensar e aprender a exprimir-se e movimentar-se sob determinados requisitos mínimos de exigência.
Uma licenciatura pode não dizer muito coisa sobre a competência de alguém para ser Primeiro-ministro, mas, por alguma razão preferimos sempre um médico credenciado a deixar que o curandeiro de chás, mezinhas e búzios (ainda que seja seguido por uma multidão de paralíticos que juram ter-se levantado para caminhar pela sua mão) brinque aos médicos com os nossos filhos ou entes próximos.