por Henrique Burnay, em 19.04.07
Nas traseiras do quiosque de jornais da Rua Alexandre Herculano, em Lisboa, um cartaz das
Novas Oportunidades exibe uma Judite de Sousa de ar triste e cara amarelada, atrás de uma banca a vender de jornais. É a Judite de Sousa que não estudou, não foi jornalista e por isso o mais que consegue é vender jornais atrás de uma banca. Coitada. Exactamente o que faz a senhora que ali trabalha.
Compreende-se as boas intenções da campanha das Novas Oportunidades, e de quem participou, mas o desprezo com que se tratam os que não têm sucesso nem são famosos é ofensivo. O País assim dividido entre os literatos de sucesso e a escória que não aprendeu suficientemente a ler é, alem de falso, imoral. E se pensarmos que muitos dos “colegas de curso” de Judite de Sousa acabam, mais tarde ou mais cedo, a vender jornais ou atrás de outro balcão qualquer, tudo isto ainda parece pior. Pior do que o falhanço profissional, que pode ser honroso e glorioso, é este falhanço de valores.