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As esquerdas e o deserto

por João Vacas, em 08.06.11

Para caracterizar o que é a esquerda, o Rui Tavares, no Público de hoje, optou pela caricatura de contornos novecentistas:

 

«Mais do que uma doutrina ou uma ideologia, a esquerda é a aliança daqueles que não são ricos nem poderosos. A esquerda é uma aliança de pessoas livres e iguais, fraternas entre si na mesma dignidade.

Sendo os ricos e poderosos naturalmente poucos, a esquerda terá de ser, para ter força, a união dos muitos. E esses muitos são — como é evidente — muito diferentes uns dos outros. Não são, não podem ser, todos da mesma seita. Não têm, e não podem ter, todos os mesmos objetivos de futuro, a mesma visão do mundo, ou o mesmo estilo de vida. Isso é impossível, e a esquerda que é esquerda luta para que isso seja impossível, e para que ainda assim haja unidade entre os muitos, os que não são ricos nem poderosos, os que se arriscam a ser lixados se não souberem fazer uma aliança.»

 

Está visto que quem é de direita é rico e poderoso. E os que, sendo de direita, não são nem uma coisa nem outra andam enganados. Somos, por isso, pouquinhos e não desejamos ser livres nem iguais em direitos e em dignidade. Eles são os bons e nós os maus. Simples, não é?

 

Se ainda pretende vir a ser alguma coisa e convencer quem quer que seja, essa esquerda que se reclama dos muitos terá de ir além da indigência argumentativa e conceptual. Pode começar por clarificar que visões do mundo pretende agregar e se essa agregação é possível, viável e mesmo  desejável. Porque talvez parte da dita seja apenas isto: infrequentável.