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Um Oakeshott em cada quarto

por Laura Abreu Cravo, em 19.04.07
Aos olhos do homem católico, a sua mulher é uma mulher cara, levando-lhe invariável e religiosamente o vencimento por inteiro ao final de cada mês. Pelo contrário, a mulher protestante, aos olhos do seu marido, é uma mulher comparativamente barata, levando-lhe apenas uma fracção do seu vencimento ao final de cada mês, por vezes apenas metade.
 
 
Sou Católica, conservadora, advogada, solteira. Com profunda simpatia pelas teorias liberais no que à economia diga respeito. Descrente na humanidade mas com noção da missão terrena de cada um no que respeita à perpetuação da espécie e constituição de família. Nascida no seio de uma família igualmente católica e conservadora mas tendo por referência uma figura materna marcada pela excelência na vida profissional. Não pretendo limitar-me a gerir o vencimento do homem com quem me casar a menos que seja eleita CEO de uma sociedade gestora de patrimónios especialmente constituída para o efeito.
Mais: (i) “O tratamento de jóia que o marido de tradição católica por vezes consagra à sua mulher” é sinal que, antes de casar, deve ter estagiado a tirar imperiais numa qualquer tasca nas imediações do estádio da luz ao domingo;
(ii) “A forma como ele popularmente se refere a ela perante terceiros, como sendo a patroa” é sintoma de que devia ter recebido uma educação britânica, à antiga, para aprender a não dizer disparates enquanto coça a barriga proeminente;
(iii) “O título de Dona que a mulher da tradição católica adquire com o casamento” só é usado no comboio para os subúrbios ou para designar a mulher do senhor que tem a loja da fruta em campo de Ourique.
Mais a sério, não creio que, para estes efeitos, a distinção entre a mulher católica e a mulher protestante releve. Ao longo dos tempos as mulheres portuguesas, mesmo católicas, instruíram-se, precavendo-se intelectualmente para o infortúnio. Trabalham e contratam pessoal doméstico especializado. Consomem (e , por isso são, em grande medida, o target por excelência das campanhas publicitárias) já não apenas com o orçamento que o marido lhes despoja no chão da sala (qual pele de mamute recém-esfolado) mas sobretudo com o dinheiro que resulta da sua própria actividade profissional. As mulheres estão em maioria nas escolas e universidades, e continuam a ser católicas, começam a dominar o mercado de trabalho e as igrejas não estão vazias ao domingo.
“São estes privilégios que algumas jovens portuguesas se preparam para abandonar em nome do igualitarismo”. As jovens portuguesas realmente inteligentes já terão percebido que o igualitarismo é um plano que os homens preguiçosos encontraram para lhes atribuir um número ainda maior de tarefas. Tratar diferente o que é diferente é um sinal de elevação moral que não se pode exigir a qualquer um. Católico ou protestante.


lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

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De isa a 19.04.2007 às 12:30

Mai nada. :-) Gostei. é uma bela resposta e nem preciso de ir ler do outro lado.
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De tt a 19.04.2007 às 13:57


Brilhante!

Identiico-me absolutamente com o seu texto. Também sou católica e liberal. Provávelmente, com a idade e a postura da sua mãe.
Por isso, não posso deixar de lhe dizer: Parabens, Laura.

Já agora, acrescento: para ter sexo não é preciso casar. Quem casa, quer sobretudo constituir umafamília.



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De tt a 19.04.2007 às 14:00

* Por favor, tirem lá o acento a provavelmente.
:)
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De David Silva a 19.04.2007 às 15:49

O texto é excelente. Mas há que haver cuidado em não simplificar demasiado:
1.º - O nosso país não é o único católico, e creio que nos outros países as situações descritas não se aplicam - logo, devemos a presente situação ao catolicismo ou ao portuguesismo?
2.º - Parem lá de fazer referência ao Benfica quando se querem referir ao povão " e às suas tristes carências.
3.º - E quê, já não se pode ter barriga proeminente?! Digamos que as mulheres portuguesas também não primam pelos cuidados com que se tratam.
4.º - Ainda podia fazer referência à relação sexo/casamento e aos parceiros masculinos, mas enfim...

P.S.: Realmente há algo de estranho nos países católicos. Se excluirmos os muçulmanos, os católicos são os mais atrasados no seu contexto geo-estratégico !
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De Laura Abreu Cravo a 19.04.2007 às 15:55

Caro David, obrigada pelo comentário e pelo elogio ao texto. Uma nota: Sou benfiquista (das que vão ao estádio e tudo) e usar o benfiquista (ou a barriguinha) como padrão é só uma forma de auto-ironia. Sabe que a literalidade é a a pior forma de simplicidade. No mais, sinta-se em sua casa.
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De David Silva a 20.04.2007 às 16:50

Tem toda a razão no que diz, mas não quero parecer tão simplório. Não é pelo uso que faz dessas imagens, mas pela recorrência com que são usadas por todo o lado. Ora me fazem rir ora me cansam... Enfim, percebi perfeitamente a mensagem, mas temos de arranjar uma outra iconografia.
Os meus cumprimentos

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