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Quanto mais ouço dizer-se que o Orçamento para 2012 não tem nenhuma medida para o crescimento, que se devia ter mantido - ou mesmo aumentado - o poder de compra de toda a gente para estimular a economia, que se devia era apoiar as empresas exportadoras, e mais isto e mais aquilo, quase que me convenço de que, em vez de termos pedido ajuda financeira externa quando a pedimos, o melhor mesmo teria sido deixar o Estado resvalar para a bancarrota (era só esperar umas poucas semanas, como se sabe). Se num belo dia, aparentemente igual a todos os outros, os funcionários públicos, os pensionistas, os credores e os fornecedores do Estado reparassem que os pagamentos devidos pura e simplesmente não iriam ser feitos, agora não pensavam como pensam. É triste, mas a maior parte das pessoas que trabalham para o Estado não tem a mínima noção de que só permanece empregada e a receber ordenado porque Portugal foi resgatado à beira do precipício. A teoria do moral hazard não serve só para a discussão dos resgates de bancos: como se vê, pouca gente compreende o risco que enfrentamos. Talvez um pequeno choque antes da entrada da Troika nos tivesse feito bem.
Manter o nível de vida? Subsidiar as empresas exportadoras? Quem fala assim vive em que mundo? Com que dinheiro acham que se pode fazer isso? Com o nosso é que não será, porque esse não existe. E o dinheiro que nos emprestaram, como é óbvio, serve para sobrevivermos enquanto nos ajustamos ao nível de vida que podemos ter (sim - surpresa, surpresa! - vai haver recessão) e trabalhamos para pagarmos o empréstimo.
O Orçamento não tem medidas de crescimento? Errado. O Orçamento é todo ele orientado para o crescimento: só existirá crescimento económico quando houver acesso ao financiamento sem ser a condições ruinosas; só haverá esse acesso quando Portugal recuperar a credibilidade nos mercados; a credibilidade só se recupera se o país provar que é capaz de se disciplinar; Portugal só faz essa prova se cumprir escrupulosamente aquilo a que se comprometeu. E o verdadeiro compromisso não é com um conjunto de medidas, mas sim com uma série de metas orçamentais bem definidas. Se as não cumprirmos, o crescimento económico será um amanhã que canta na boca de alguns fantasistas. Nesta fase inicial do cumprimento do plano, quando ainda não provámos absolutamente nada e não há ainda qualquer alteração significativa nos mecanismos de intervenção do Euro, dizer o contrário é uma completa irresponsabilidade.