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Hoje – como todos os anos – também eu gostava de ter estado na Avenida da Liberdade a comemorar o 25 de Abril de 1974. Comemoro mais que a data. Comemora a liberdade, a igualdade e a fraternidade que só Abril trouxe ao meu país e à minha família.
Gostava de ir para a rua celebrar essa liberdade com o meu avó, mas ele fica sempre dorido nesta altura do ano. Diz que os meses que passou na prisão de caxias não lhe fizeram bem ao reumatismo.
A tia Carlota diz que não tem dinheiro para passear ao fim-de-semana desde que lhe nacionalizaram os negócios. “Nacionalização é a redistribuição da riqueza”, explicou-me um dia a minha maezinha enquanto tratava de juntar água à sopa. “O caminho para a verdadeira igualdade!” insistiu. Lá em casa, a igualdade chegou com abril, quando tivemos todos que ficar a dormir nos mesmos quartos com os primos que chegavam de áfrica.
O tio Carlos também guarda boas memórias desses dias. Passeou por Lisboa nas traseiras de um camião com uma G3 apontada. Fraternamente não o fuzilaram como prometeram. Infelizmente é raro encontrar o tio Carlos. Foi para o Brasil e nunca mais voltou. Também não posso contar com o tio augusto que não bate bem da cabeça. Ficou assim desde que foi cercado e atacado no alentejo por proteger a herdade.
O primo Bernardo, este ano, admitiu fazer-me companhia. Diz que só iria, se eu jurasse não contar a ninguém sobre os seus seis anos de serviço voluntário na guerra e nas medalhas que lá ganhou por feitos heróicos. Tem medo que o chamem de “assassino” outra vez.