por Laura Abreu Cravo, em 27.04.07
Toda a gente sabe que é política da casa — que, ao longo dos anos, temos visto que mais ou menos ninguém respeita — que aquilo que é dito no Snob não se publica. Quem frequenta sabe que se vai lá para jantar fora d’horas ou beber um copo, num sítio onde as paredes nos reconhecem e onde as caras pouco vão variando num universo vasto mas limitado que permite o reconhecimento de um aceno de cabeça ao mais assíduos.
Coisa que também se sabe é que, ao fim de algum tempo, é bastante natural que as conversas entre mesas contíguas se cruzem e que, com o adiantar da hora, a cada noite, a profundidade ideológica dessas conversas (quer se discuta política nacional, bola ou actualidade variada da vida alheia) as torne mais assertivas e acaloradas. Nos momentos limite depende-se do Senhor Albino que exerce a sua decana autoridade detrás do balcão e, entre sorrisos e água na fervura, vai chamando pelo nome a trazendo à razão os mais entusiasmados ou menos polidos.
Por tudo isto ir ao Snob tem graça. Porque uma noite à partida pouco entusiasmante pode proporcionar tertúlias surpreendentemente instrutivas quer sobre a natureza das coisas (que se esteja a discutir) quer sobre a natureza dos homens (que estejam a discuti-las). Ou ainda porque, também ali, se aplica a velha máxima de que as condições extremas trazem à superfície o melhor e o pior de cada um. Se ali se aprende a viver com a realidade inegável de que as conversas, afirmações e declarações efectuadas não são nunca absorvidas apenas pelo seu inicial destinatário (é como sussurrar baixinho num quarto vazio com óptima acústica) também cedo se percebe que isso não é relevante ou necessariamente desagradável quando, do lado de lá do canal, esteja humanidade civilizada e com noção mínima de decoro.
Ali, como na vida em geral, há de tudo. E — como na vida em geral — o pior não é, a cada dia, haver de tudo: é, de vez em quando, haver bocados do resto.