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Caro Filipe,
Eu escrevi um post com a minha versão de acontecimentos em que participei, depois de ter lido graves distorções da realidade. Se leres bem o texto, não formulo nenhuma opinião divergente da tua quanto ao essencial dos valores que o CDS deve defender. Não é por ter escrito o que escrevi que deixei de considerar, como tu, que o CDS deve ser um partido alinhado com a generalidade dos princípios tradicionais pró-vida e pró-família. O que nos distingue são, apenas, duas questões muito concretas:
1) Eu acho que, à semelhança dos grandes partidos da direita democrática, o CDS deve aceitar com naturalidade a militância de pessoas que façam dos princípios do partido uma interpretação diferente da maioritária e óbvia, que possa culminar circunstancialmente na defesa de políticas concretas de sentido divergente do habitual (repara: não estou a falar de militantes do Bloco equivocados, mas sim de pessoas que pensam geralmente como pensa tipicamente o CDS, mas nem sempre). Julgo que só pode ser assim numa sociedade aberta. Julgo também que, consequentemente, todos os militantes devem ter o direito de exercer cargos públicos eleitos em nome do CDS (desde logo os legislativos). Não é possível identificar um núcleo duro de posições que definam um militante puro do CDS e restringir o acesso aos cargos aos que daquelas façam uma observância estrita. Qual é que é mais impuro? O militante que defende o casamento civil entre duas pessoas do mesmo sexo ou o que defende um aumento de impostos?
Pelo contrário, tu fizeste uma proposta que, na prática, encerraria à partida a possibilidade de qualquer debate e impediria muitos militantes de exercerem todos os seus direitos.
2) Eu acho que a questão da matriz pró-vida e pró-família do CDS não existe. Ela é um dado incontornável. Tu e os teus companheiros de proposta é que criaram um artifício para passarem a ilusão de que ela tinha sido afastada ou que estava em perigo. Foi só uma jogada de política, para irem tentando conquistar território. Não avançaram muito, para me ficar pelo eufemismo.
Portanto, parece-me que no essencial nada nos separa e o acessório em que divergimos não só não tem matéria suficientemente digna para o debate que propões como, em boa verdade, parte de uma politiquice artificial que não quero alimentar. A vida política portuguesa já tem demasiada gente a entreter-se com efabulações e temas vazios. Aliás, se pensares bem, há na espécie de duelo que solicitas um travo ligeiramente infantil, que não faz o melhor dos serviços à imagem do CDS e da política. Nem se percebe bem o que é que tu queres discutir.
O que não quer dizer que não possamos, como sempre, beber um copo e falar do assunto, porque o cavalheirismo já não se faz necessariamente com revólveres ao nascer do sol.
Um abraço amigo.