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Breve história sem nenhuma moral

por Henrique Burnay, em 01.05.07
Há duas semanas que cerca de quarenta ciganos (conforme o dia e as horas) se instalaram às portas do Hospital São Francisco de Xavier. Até aí nada de novo, já se sabe que é sempre assim (e eu, que sou um individualista por definição, comovo-me às vezes com esta noção de clã, de grupo, de que o que acontece a um acontece ao grupo). Há dois dias, sentados no café do hospital, dois miúdos, ciganos, desatam à chapada. Um, mais franzino e de cabelos claros, tem de ser socorrido pela mãe, enquanto o outro, o de cabelo preto, tez mais escura e mais forte, leva uns calduços e uns tabefes da respectiva mãe. Nada de novo, até que o franzino, já devidamente seguro, insulta o outro a plenos pulmões: “preto, preto, és preto”, enquanto o outro berra e ameaça regressar à porrada. Os dois miúdos têm uns sete anos, não há nenhuma moral aqui, é só uma história. Uma história.