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Ás vezes, fico com a sensação que algo de pessoal te move contra a MAMAOT, tal a imprecisão e falta de rigor de alguns dos teus postes. Espero estar enganado e que não seja esse o caso nem tão pouco um fanatismo ideológico que te impede de ver a luz.
Ora vejamos, a Ministra Assunção Cristas, na entrevista ao jornal Expresso, que percebo, não leste até ao fim, versa a relação desproporcional que existe entre a distribuição e os produtores, favorável aos primeiros. Não opina sobre a legitimidade da distribuição a decidir sobre as suas promoções.
A distribuição organizada, ganhou um poder enorme face aos fabricantes e distribuidores, invertendo uma relação de forças que existia há 20 anos atrás. Isto começou com o primeiro Hipermercado Continente na Amadora e nunca mais parou desde aí. Se a isto adicionares o fenómeno das marcas brancas ou marcas de distribuição, o caso torna-se ainda mais grave. Ao ponto de hoje, à excepção, provavelmente da Coca Cola, do SKIP e Fairy e talvez do leite Mimosa, qualquer cadeia de distribuição pode prescindir de qualquer marca, mas estas não podem prescindir de uma cadeia de distribuição, por mais pequena que ela seja. Ora, nas categorias alimentares e eventualmente no chamado bazar ligeiro, há ainda o agravante de muitos fabricantes ou produtores terem uma dimensão média mais reduzida e não possuírem sequer uma marca (ninguém compra maças ou laranjas da marca X). São as chamadas “ comodities” – bens pouco diferenciáveis e não “marketizáveis” (a palavra não existe mas penso que entenderás o conceito).
Ora, aquilo que a Ministra Assunção Cristas pretende é equilibrar uma relação negocial abusiva e desproporcional entre os fornecedores e a grande distribuição. Essa relação, passa pelos prazos de pagamento demasiado largos, pelos bónus de final do ano, pelas taxas de centralização, o valor de topos e folhetos, a verba de aniversário, remodelações, etc, etc. Frequentemente, nesta relação, o risco é totalmente assumido pelo produtor e zero pelo retalhista. A situação foi de tal forma expressiva, que poderemos dizer que foram os fornecedores a financiar a expansão dos retalhistas nos últimos 20 anos. Expansão essa que até já terminou e por isso, ainda menos sentido faz esta relação. Se duvidas tiveres, basta comparares as margens de EBITDA de uma cadeia de distribuição com as dos produtores seus fornecedores. As contas são públicas.
É isto que a Ministra Assunção Cristas quer alterar. E até na forma, o está a fazer correctamente, alertando os intervenientes para a necessidade de existir auto-regulação e apenas se estes não se entenderem, será necessário a intervenção legislativa. Para isso, criou se a PARCA - plataforma com o objectivo de promover um código de boas práticas entre as grandes superfícies e os fornecedores industriais e agrícolas.
Já isto, não tem nada a ver, e imagino que tenhas ligado o tema da noticia, pela existência de um titulo menos feliz, com a legitimidade que o grupo Jerónimo Martins e outros, têm em fazer as campanhas mais agressivas, nas datas que entender, desde que não o faça à custa dos seus fornecedores e à revelia destes como se fosse um imposto revolucionário. Nisso, estamos de acordo.