Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




Meu Caro Nuno Gouveia:

 

Ás vezes, fico com a sensação que algo de pessoal te move contra a MAMAOT, tal a imprecisão e falta de rigor de alguns dos teus postes. Espero estar enganado e que não seja esse o caso nem tão pouco um fanatismo ideológico que te impede de ver a luz.

 

Ora vejamos, a Ministra Assunção Cristas, na entrevista ao  jornal Expresso, que percebo, não leste até ao fim, versa a relação desproporcional que existe entre a distribuição e os produtores, favorável aos primeiros.  Não opina sobre a legitimidade da distribuição a decidir sobre as suas promoções.

 

A distribuição organizada, ganhou um poder enorme face aos fabricantes e distribuidores, invertendo uma relação de forças que existia há 20 anos atrás. Isto começou com o primeiro Hipermercado Continente na Amadora e nunca mais parou desde aí. Se a isto adicionares o fenómeno das marcas brancas ou marcas de distribuição, o caso torna-se ainda mais grave. Ao ponto de hoje, à excepção, provavelmente da Coca Cola, do SKIP e Fairy e talvez do leite Mimosa, qualquer cadeia de distribuição pode prescindir de qualquer marca, mas estas não podem prescindir de uma cadeia de distribuição, por mais pequena que ela seja.  Ora, nas categorias alimentares e eventualmente no chamado bazar ligeiro, há ainda o agravante de muitos fabricantes ou produtores terem uma dimensão média mais reduzida e não possuírem sequer uma marca  (ninguém compra maças ou laranjas da marca X). São as chamadas “ comodities” – bens pouco diferenciáveis e não “marketizáveis”  (a palavra não existe mas penso que entenderás o conceito).

 

Ora, aquilo que a Ministra Assunção Cristas pretende é equilibrar uma relação negocial abusiva e desproporcional entre os fornecedores e a grande distribuição. Essa relação, passa pelos prazos de pagamento demasiado largos, pelos bónus de final do ano, pelas taxas de centralização, o valor de topos e folhetos, a verba de aniversário, remodelações, etc, etc.   Frequentemente, nesta relação, o risco é totalmente assumido pelo produtor e zero pelo retalhista. A situação foi de tal forma expressiva, que poderemos dizer que foram os fornecedores a financiar a expansão dos retalhistas nos últimos 20 anos. Expansão essa que até já terminou e por isso, ainda menos sentido faz esta relação. Se duvidas tiveres, basta comparares as margens de EBITDA de uma cadeia de distribuição  com as dos produtores seus fornecedores. As contas são públicas.

 

É isto que a Ministra Assunção Cristas quer alterar. E até na forma, o está a fazer correctamente, alertando os intervenientes para a necessidade de existir auto-regulação e apenas se estes não se entenderem, será necessário a intervenção legislativa. Para isso, criou se a  PARCA -  plataforma com o objectivo de promover um código de boas práticas entre as grandes superfícies e os fornecedores industriais e agrícolas.  

 

Já isto, não tem nada a ver, e imagino que tenhas ligado o tema da noticia, pela existência de um titulo menos feliz,  com a legitimidade que o grupo Jerónimo Martins  e outros, têm em fazer as campanhas mais agressivas, nas datas que entender, desde que não o faça à custa dos seus fornecedores e à revelia destes como se fosse um imposto revolucionário. Nisso, estamos de acordo.

 


lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

Imagem de perfil

De Manuel Castelo-Branco a 05.05.2012 às 17:23

Caro Joaquim
Deixe-me começar pelo fim. As grandes superfícies , não podem deixar de vender maças, mas podem deixar de vendar as maças do produtor A ou do produtor B. Como pode viver sem as bolachas Nacional ou sem o frisumo ou sem os Kiwis do productor C. Quanto aos limites da intervenção governativa, eu diria que é mais um tema da autoridade da concorrência ( que pelos vistos não actuou) do que do Governo. Mas, falta também um enquadramento legislativo. Acredite meu caro, que o poder da distribuição é desproporcional .
Sem imagem de perfil

De Joaquim Amado Lopes a 05.05.2012 às 17:47

Caro Manuel,
As grandes superfícies podem deixar de vender as maçãs do produtos A ou do produtor B. E ainda bem. Ou acha que o Estado deve poder dizer às grandes superfícies a quem devem comprar as maçãs e a que valores?

E os produtores podem vender para a grande superfície X ou para a grande superfície Y, em condições com que ambas as partes concordem. Para que a grande superfície X prefira comprar as maçãs ao produtor A em vez de ao B, o A tem que oferecer uma relação qualidade/preço melhor do que o B.
Chama-se livre concorrência e o Manuel não é obrigado a concordar com isso.
Mas pretender que cabe ao Estado legislar sobre quem deve comprar o quê a quem e em que condições é uma limitação da liberdade das empresas, gera ineficácia na economia e tem um nome que não é necessariamente um insulto embora tenha dado SEMPRE muitos maus resultados: socialismo.
Imagem de perfil

De Manuel Castelo-Branco a 05.05.2012 às 19:30

Joaquim

Estou com mt pouco tempo e por isso perdoe-me a brevidade da resposta. O Estado ao legislar, não se está a intrometer na esfera das empresas. Isto é, não está a definir com quem estas devem contratualizar, mas sim a forma como devem contractualizar, salvaguardando que não há "chantagem" de uma parte sobre a outra.Ou se quiser, que a entidade mais forte, não aniquila a entidade mais fraca. É só isso e não mais. E posso dizer-lhe que falo com algum conhecimento de causa, pois metade da minha vida profissional, passei-a do lado dos productores e a outra parte na distribuição. E acredite, que estar na distribuição é exponencialmente mais fácil. Quando precisava de receitas, era relativamente fácil. Bastava reunir com os fornecedores e ameaçar dois que iriam sairt de linha ou reduzir referencias.

Comentar post