De cristina a 14.05.2007 às 22:00
Já vi que os leitores atentos da vossa caixa de email aprendem muito com Pacheco Pereira, lendo o Público:
"Eu não sei o que de húngaro ficou em Sarkozy, cujo nome completo é Nicolas Paul Stéphane Sarközy de Nagy-Bocsa, três nomes de santos, um dos quais o fundador da Hungria, mas há coisas que se colam à memória como se de sentimentos vagos se tratasse. Ora, na Hungria, mesquitas que hoje são igrejas católicas fazem parte da paisagem, como em Pécs. Nós, cá no nosso canto da Reconquista, só ficámos com as "mouras encantadas" e de há muito que os espanhóis substituíram a moirama no papel de inimigo principal, mas os húngaros estiveram bem dentro do Império Otomano, o suficiente para não se esquecerem.
Quanto aos francos, a história ainda é mais complicada. É verdade que os "francos" são para todos os muçulmanos que têm memória das cruzadas - e para muitos este é um factor de identidade entre Istambul e Meca - o inimigo que está ainda presente nas ruas da velha Jerusalém, nos portos do Levante, nas ilhas de fronteira como Rodes e Chipre. Mas também é verdade que, durante muito tempo, já em pleno declínio do Império Otomano, a França foi a entrada para a Porta, através de portos como Marselha. Foi também a França que forneceu alguns dos mais influentes orientalistas como Pierre Loti, que transformaram as veladas mulheres muçulmanas em ideais eróticos e tornaram o harém do Topkapi num destino turístico de primeira. Por isso, Sarkozy pode ter a "sua" história, mas a história tem sempre mais do que um caminho quando deixa de ser história e se torna presente."