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O admirável "Plano Tecnológico da Educação"

por Carlos do Carmo Carapinha, em 25.07.07
Jornalista: Sabes o que é que estás aqui a fazer?
«Aluno»:
Chamaram-me para uma publicidade - uma agência - e estou aqui, agora.
No mínimo, brilhante. Assisti, num misto de estarrecimento pré-comatoso e incredulidade delirante (a caminho da baba), à reportagem do lançamento do Plano Tecnológico da Educação (juro que é ipsis verbis). Um momento de ouro da SIC-Notícias. Graças à inspirada verve da repórter e à rara circunstância de observarmos José Sócrates sem rede e em postura coloquial, assisti, pela primeira vez na televisão, à queda de um mito. Entregue a si mesmo e ao seu sorriso de laca, o nosso Primeiro caiu do pedestal de enfatuamento saloio a que se habituou a dirigir-se aos «portugueses e às portuguesas». E caiu estrondosamente. Um estrondo mudo proveniente de uma performance penosa, quase aviltante. Foi patética a forma como José Sócrates reagiu atrapalhadamente às perguntas do jornalista, revelando uma plastificante falta de à-vontade e um sub-reptício enfado por certo tipo de perguntas lhe estarem a ser dirigidas - ao invés das perguntinhas da praxe que mais não passam do que deixas para um discurso pré-fabricado e pré-formatado.

Desassombradamente e de forma profissional, a jornalista soube ardilosamente desmontar a farsa – não só os alunos eram fictícios, contratados por uma agência, como tudo aquilo tresandava a show-off propagandista – e contar a história. Mas o facto da história ser mais do mesmo – propaganda barata sobre temas sérios elevados a utopias à lá Aldous Huxley – não me preocupa. O que me preocupa é eles – primeiro-ministro, ministros e responsável pelo emblemático Plano Tecnológico – acreditarem naquilo. O que me preocupa é eles acreditarem piamente que são aqueles meios – que supostamente corrigirão a mão azelha do professor que ao tentar desenhar um equilátero no quadro de ardósia lhe sai um T0 na Musgueira – que irão melhorar o ensino em Portugal. Pensar que são aqueles écrans espalhados pela sala de aula - mais o quadro mágico que desenha as figuras geométricas na perfeição, mais o programinha que indica logo quantos erraram - que irão resolver os problemas do ensino e substituir a «escola do passado» pela «escola do futuro». Pensar que a «escola do futuro» é aquilo. Um dos mais brilhantes professores que encontrei no antigo Preparatório, e em toda a minha vida, dava aulas de matemática num quadro de ardósia. Ali, na André de Resende (em Évora). Tinha uma caligrafia horrenda e um jeito para o desenho equivalente ao do Dr. House para a diplomacia. Era desajeitado e desorganizado. Odiava calculadoras. E, contudo, ensinou-me matemática como mais ninguém. E ensinou-me a gostar de matemática – mania que eu ainda hoje cultivo e aprecio. É inútil e escusado explicar isto ao Sr. Primeiro-Ministro e à Sra. Ministra da Educação. Pelo que se viu na reportagem, estúpido, até.
José Sócrates: Então não acha isto o máximo? Está a ver? Todos podem responder no mesmo momento e parece imediatamente no quadro quantos é que responderam bem e quantos é que responderam mal.
Jornalista:
Está muito atento, também é um aluno atento, Sr. Primeiro-Ministro...

(também publicado aqui)


lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

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De edobasilio a 26.07.2007 às 15:31

Bom dia Carapinha e boas férias!
Você diverte-me. Já vi que não gosta nada de ser contestado, do confronto de ideias. Então para quê escrever num blog? Aliás tem toda a técnica de pegar numa frase e nunca na ideia ou ideias de fundo que o contestador apresenta. Você não é burro, até porque teve um bom professor a Matemática, então porque insiste nas tiradas eloquentes a disparar para todos os lados. Concentre-se e atire na muge, que não é a árvore mas sim a floresta.
Eu escrevi "que mesmo com os mais modernos meios didácticos um mau professor se transforma em bom, mas reconheça que ajuda muito, principalmente os alunos". E você escreveu "Não perceber que eu estou a colocar o assento tónico nas pessoas, e não nas tecnologias, é não perceber nada. Portanto dissemos o mesmo. Eu acrescentei que "elas ajudam muito", porque pela prática sei do que falo. Mas eu sei que você também está de acordo. Só que o impulso , seguramente juvenil, do querer ganhar leva-o à precipitação e ao disparate de parecer ser contra as novas tecnologias, na ânsia de querer ser sempre contra o governo.
Sobre a DREN , independentemente do juízo que cada um faz da gravidade do assunto, concorda que é um facto pontual e não representativo da realidade nos milhares de organismos da Administração do país. E foi isso que eu tentei expressar.
Não se exalte. Um bom debate faz bem à saúde mental. Cumprimentos

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