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«O objectivo [de quem liga o Bloco ao Verde Eufémia] é transportar, no imaginário das pessoas, o Bloco para fora da lei e da democracia.»
Engana-se, o Daniel. Quem se transportou para fora da lei e da democracia foi o próprio Bloco.
Deixemos de lado a "simpatia" que Miguel Portas afirmou nutrir pelos jovens vândalos de Silves, a tendência de Louçã para desviar o discurso e a relutância do Daniel Oliveira em dizer que aquele crime foi mais do que meramente "uma acção idiota".
Concentremo-nos na desobediência civil - o conceito que o Bloco veio alegremente promover e que, ciclicamente, ensina à criançada nos seus acampamentos de Verão. A desobediência civil traduz-se em actos que violam uma lei vigente em protesto contra a sua intrínseca injustiça. Os dois casos mais famosos (e que mais frequentemente aparecem na discussão do tema, também agora a propósito do Verde Eufémia) são o de Henry David Thoreau - o escritor que se recusou a pagar impostos em protesto contra o esclavagismo legalmente aceite nos Estados Unidos - e o de Rosa Parks - a costureira negra norte-americana que se recusou a ceder o seu lugar num autocarro na América dos tempos em que a segregação racial era também lei.
Num Estado de Direito democrático em que não subsistem na lei quaisquer soluções inaceitáveis do ponto de vista das liberdades individuais, dos direitos civis e da igualdade de estatuto ou de oportunidades entre pessoas de sexo, ideologia, religião, cor ou etnia diferentes, a desobediência civil não faz sentido. Podem certamente verificar-se situações (pontuais ou reiteradas) de discriminação. Mas como essas situações serão ilegais, a desobediência civil é impossível.
Promovê-la nestas circunstâncias é uma perda de tempo. A não ser que estejamos a falar de um partido com representação parlamentar, caso em que a coisa é verdadeiramente grave. Um partido com assento numa assembleia legislativa não pode defender a desobediência civil. O seu desacordo com determinada lei deve ser manifestado precisamente nessa assembleia (na qual exerce um mandato de representação do povo), aí argumentando e propondo a sua revogação.
Ao promover a desobediência civil (ao defender como acções legítimas, por exemplo, o buzinão da Ponte 25 de Abril ou o boicote às propinas), o Bloco está, de facto, a transportar-se "para fora da lei e da democracia".
Pelo que cabe perguntar: se o Bloco não quer fazer uso do voto, para quê votar no Bloco?