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Quando comecei a tirar fotos com a Kodak do meu pai, achava que o slogan "Para mais tarde recordar" não fazia muito sentido. Ora, eu recordava-me de todos aqueles acontecimentos!, e recordei-me deles por anos a fio. Até que isso deixou de acontecer.
No início tirava poucas fotos. Mas as revelações rápidas foram-se tornando cada vez mais rápidas e acessíveis. E depois veio o digital. O meu espólio fotográfico passou de meras dezenas para milhares de fotos. Mas não foi só o número de fotos tiradas que disparou. A vida avançou, complexificou-se e cada vez mais acontecimentos foram ficando enterrados no passado, passado que foi ficando cada vez mais longínquo. Afinal de contas, chama-se a isso a passagem do tempo. O "para mais tarde recordar" passou a fazer sentido. Sem as fotos... eu nunca mais iria recordar muitos daqueles momentos. Como se tornou óbvio. A ilusão da redundância das fotos e da persistência da memória deve fazer parte daquela sensação de imortalidade que acompanha os primeiros anos da vida adulta.
Vem isto a propósito de (parece óbvio...) ter estado a ver fotos antigas. E de ter visto o filme Mamma Mia! - Here We Go Again. A este respeito, devo dizer que detestava os Abba na época em que essas músicas foram saindo. Tenho uma memória de até ter gostado de Waterloo, que ganhou o festival da Eurovisão de 1974 (aquela guitarra do Björn Ulvaeus era o máximo!), mas a partir daí a música dos Abba representava para mim o comercialismo e a música de dança que eu menosprezava -para mim a música era para ouvir, ponto final. O facto de ouvir essas canções no lo-fi da onda média durante tanto tempo, e por essa ser a época do Disco Sound (música que na maior parte dos casos era enjoativa de ouvir, vamos ser honestos) pode ter contribuído um pouco para esse enfado.
Entretanto comecei a escutar o Rock em Stock, o Rolls Rock e depois o Som da Frente, e portanto eram as bandas rock que eu gostava de ouvir. Primeiro os Police, e depois The Doors, Ultravox, U2 (especialmente os 4 primeiros álbuns), The Stranglers, Joy Division, Bauhaus, Echo and the Bunnymen, Kraftwerk, Camel, Yes, Genesis, Pink Floyd, Led Zeppelin e mais tarde (viajando até ao presente) Radiohead, Jeff Buckley, Interpol, Arcade Fire, Sufjan Stevens e Steven Wilson.
Entretanto comecei a ouvir aqui e ali por acaso Abba (coincidindo naturalmente com o revivalismo associado à banda que se começou a sentir há cerca de uma década atrás) e, anos depois, a coisa passou estranhamente a soar melhor, especialmente agora que os ouvia em hi-fi. Vinha ao de cima a excelente qualidade de produção musical e as melodias cativantes. E o facto das canções dos suecos afinal estarem bem construídas e não serem tão repetitivas e pobres quanto a maioria da pop comercial, pelo contrário. E depois vi o filme Mamma Mia e agora a sua sequela. Os filmes não são profundos, mas estão muito bem feitos e a integração das canções no enredo parece ser sempre natural, não forçada. E as memórias? O que é incrível é que ambos os filmes despertaram memórias que eu já não me lembrava que tinha. É uma sensação difícil de descrever.
A internet é curiosa, pois o que lá cai, fica lá indelevelmente gravado em servidores redundantes feitos de memórias digitais, bastando depois apenas um motor de busca para reavivar essas lembranças. Sinceramente, acho que escrevi tudo isto, links incluídos, para mais tarde googlar.