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Merkel fala de modelos e de uma monitorização. Com o risco de ser simplista, julgo que o que se passa na Alemanha é o seguinte: com os dados fiáveis de que deve dispor e dos modelos validados a que também deve ter acesso, Merkel sabe prever a situação num horizonte digamos que de 1 mês (e consegue estabelecer cenários mais longínquos, como ela explica aliás).

Ela pode saber se nesse intervalo o sistema entraria em colapso. Se sim, aplica medidas mais restritivas; se não, liberta um pouco (deve ter a ver por exemplo com medidas relacionadas com escolas e outros serviços do Estado). Se os números daí a uns tempos piorarem -isto é dinâmico- ela pode fechar mais as medidas e tem também tempo para reforçar o sistema de saúde na medida necessária. Ela deve querer sempre, aliás, manter uma almofada de segurança nos meios de saúde, para poder acorrer a algum pico que sempre pode surgir de forma inesperada e aleatória.

Mas o facto dos meios de saúde estarem no presente com uma taxa elevada de ocupação não é mau? Claro que é, há sempre pessoas a morrer, nem que seja "apenas" 1% dos infectados. Mas por outro lado admitir uma infecção natural da população a um nível abaixo do colapso pode ser uma forma de admitir pragmáticamente que a doença existe e que com outro tipo de medidas o número de mortos seria maior. Portanto deixar as infecções correr não tão baixo como seria estritamente possível com medidas muito severas, mas abaixo do limite de capacidade do sistema de saúde (postura que provavelmente ninguém vai admitir) é algo muito delicado mas que pode visar alguma actividade económica e social extra, bem como a utilização da capacidade instalada para varrer (no sentido de scan) o maior número de cidadãos neste processo de autovacinação. Que obviamente ainda não se sabe se é permanente ou se apenas dura uns meses.

No entretanto espera-se que os tratamentos melhorem em eficácia e também se espera que a sociedade em geral perceba que algumas dessas pessoas (e cada morte é uma tragédia) do ponto de vista da amostra global da população morreriam ou de Covid-19 (mais cedo) ou pouco tempo depois disso de outra doença (o coronavirus tendo sido meramente aquela corrente de ar que apagou a vela já ténue). É uma análise fria, mas todos os anos as pessoas ficam 1 ano mais velhas. E acumulam problemas de saúde. É uma análise fria, mas os médicos (quando se pensa por exemplo no processo de treinamento de um cirurgião, ou no estabelecimento de um tratamento novo, ou em decisões em Urgência perante um maior número de acidentados do que mesas de operações) e os profissionais de seguros sempre tiveram esta mesma atitude objectiva quando lidam com a morte e a vida.

Daí se constata que esta estratégia de monitorização (que é também no fundo uma permanente corrida contra o tempo, ie uma em que se tenta ganhar cada vez mais tempo para cada vez ter mais meios) seja a mais racional no sentido de ir abrindo a sociedade a uma interacção mais normal, mas dentro dos limites razoáveis dos sistemas de saúde, que estão lá aliás não só para tratar doentes Covid, mas também para tratar todos os demais utentes.


lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

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De Anónimo a 19.04.2020 às 19:38

"Tendo sido meramente aquela corrente de ar que apagou a vela já ténue."

Já viu os números por exemplo do zero aos 60 anos? O mundo andava assim tão de rastos? E não me venham com a treta da gripe, claro que sim, morrem muitos dela, mas não tem nada a ver uma coisa com a outra. Está aqui está a ficar um "darwinista" como o Rodrigo...
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De Augusto Moita de Deus a 19.04.2020 às 19:58

Por isso eu digo em outros posts, nomeadamente naquele que antecede este, que é preciso medidas especiais para preservar os grupos de risco. Dito isto:

- se este ano tivesse existido um surto sério de gripe normal e se tivessem morrido 3000 pessoas em Portugal, o número de mortos actualmente de Covid-19 seria muito menor.

- se este ano tivesse existido uma prolongada e severa vaga de frio e se tivessem morrido 1000 pessoas em Portugal, o número de mortos actualmente de Covid-19 seria bem menor.

É cruel dizer isto, mas é um facto. Claro que como essa gripe e essa vaga de frio não sucederam, nunca vamos saber se isto que digo acima se iria passar. Mas parece-me obviamente muito verosímil.

E há um 2º nivel de crueldade: ninguém pode dizer que as vítimas eram todas as mesmas. Por exemplo, podemos ter uma hipotética vítima da gripe que perante o coronavirus poderia resistir.

No entanto as autoridades têm que tomar medidas para preservar vidas e recursos. Se as autoridades tomarem medidas que minimizem o número de vítimas, todos podem compreender isso. Ou seja, há vítimas, há sempre vítimas. Mas em alguns cenários há menos vítimas. Nós queremos certamente que as autoridades, sem condenar nenhuma pessoa ou grupo específico, optem por esta 2a possibilidade.

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