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Algures no tempo a morte natural morreu. Passou a ter nome. E causa. E o que tem nome e causa pode ser evitado. E se a morte pode ser evitada, então…então exigimos cura, exigimos tratamento, exigimos o fim da mortalidade. Para o velho que só quer descansar. Para o novo cujo corpo não quer funcionar.
Algures no tempo a cura deixou de ser a exceção e passou a ser a regra. Vivemos agarrados aos gráficos, às curvas aos cuidados e à desumanidade de um quotidiano esterilizado.
E voluntariamente entregamos trezentos anos de conquistas e avanços civilizacionais às mãos do medo.
Sinais do tempo. Vivemos mal com a morte. Com a finitude. Vivemos mal com a única certeza de todos os tempos. E se antes sempre tínhamos o conforto de uma vida eterna hoje não sobra nada da Fé. Na falta de Fé, entregamos a nossa vida a especialistas em adiar mortes. Porque é isso mesmo. Adiar mortes.
Não é a sobrevivência, estupido. É a vida. Lição primeira do primata que o deixou de ser.
Não é a economia, estupido. É a vida. E não temos que escolher, não podemos escolher, entre a vida e a morte.
Quanto tempo vai passar até que uma mãe abrace o filho que volta da escola?
E quanto tempo vai passar até que se voltem a chorar os outros todos que tiveram o azar de morrer de todas as outras causas?
Não somos imortais. Todos vamos morrer. Mais cedo ou mais tarde. Não escolhemos como morremos. Mas escolhemos como vivemos. Enquanto cidadãos, indivíduos e comunidade. E isto não é vida. Para ninguém.