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Em Portugal lidamos mal com a crítica. Em primeiro lugar porque não gostamos de ser criticados. Depois, porque a crítica é frequentemente ad hominem, subjectiva, em vez de se circunscrever ao assunto objectivamente em causa. Para além disso, há a incoerência essencial de criticar mas depois não elogiar. Porque fazer bem é considerado o normal. Porque se se faz bem é porque não há mais nada a dizer, uma espécie de stiff upper lip à portuguesa. (E já agora: porque se a pessoa faz bem, então a crítica negativa deixa de ser um instrumento de poder; pior: se faz bem, aquela pessoa passa a ser um rival).
Mas tudo isto é miope. Uma sociedade em que se valoriza o elogio sincero é uma sociedade mais exigente e produtiva. Veja-se a estratégia de colocar autocolantes nos cadernos dos alunos dos Primeiros Ciclos do Ensino, sempre que fazem bem uma tarefa. O que os miúdos se esforçam para ter e para manter a recompensa dum sticker com um smiley!! O elogio sincero e fundamentado é uma parte importante duma crítica construtiva e objectiva, visto que: a) na ausência do elogio, a própria pessoa começa a avaliar o que pode ter feito mal; b) a pessoa está mais receptiva a ouvir a crítica de alguém que anteriormente a elogiou.
O que é que isto tem que ver com Cristiano Ronaldo? Simples. Para além de ele querer um novo desafio; da ingratidão dos adeptos espanhóis; da perseguição do fisco; e também daquele detalhe dos 120 milhões de euros que ele vai ganhar, ninguém me tira que um dos motivos de CR7 ir para a Juventus foi aquelas palmas espontâneas com que os adeptos italianos o agraciaram após o memorável golo que marcou em Turim. Aquele momento pode ter mudado tudo. Um elogio sincero e fundamentado pode mesmo mudar uma vida. É esse o poder do elogio.