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Os eleitores escrutinam os governos e autarcas. A imprensa vigia os mandatos e cobra as promessas por cumprir. A cada ciclo eleitoral os eleitores premeiam ou penalizam os incumpridores. É assim desde sempre, em democracia.
Os candidatos, por sua vez, refinam o discurso, encontram novas estratégias a cada campanha, para fugir aos cobradores de promessas, sejam eles eleitores ou jornalistas.
Sobretudo desde 2005, com o genial avanço na comunicação pela campanha de Sócrates - a última campanha que deu uma maioria absoluta a um só partido -, inaugurou-se um novo estilo na forma de fugir ao escrutínio: o político já não promete, assume objetivos que pretende que o povo partilhe com ele através da eleição. O candidato já não se compromete, assume uma ambição. Se há um desígnio ou uma obra que valha muitos votos, seja um novo sistema de transportes ou apoios sociais, não se promete, não se dá a palavra... reivindica-se a uma entidade terceira, seja o Governo central ou a União Europeia, colocando a responsabilidade pelo fracasso longe do próximo escrutínio.
Em campanha, assumem-se cada vez mais "objetivos", "ambições", "reivindicações" e até palavras de indignação, estados de alma. "Basta" e "Chega" são alguns dos slogans para quem quer ocupar o lugar sem dizer ao que vai.
As ambições e os objetivos são colocados perante os eleitores em prazos cada vez mais longos, porque um mandato nunca chega para tamanha ambição partilhada pelos eleitores. O sonho maior da comunidade precisará sempre de vários mandatos para se concretizar, e pelo caminho, lá se vai escapando o eleito ao juízo da comunidade no final do mandato a que se está a candidatar.
Em cada "objetivo" ou "ambição" colocado na campanha, o candidato pretende obter um claro dividendo político, sendo eleito. Contudo, pretende faze-lo sem qualquer vinculação às expectativas que gera na comunidade e que lhe dão, em muitos casos, o almejado dividendo.
Nestas autárquicas gostaria que colocássemos um fim naquele estilo muito próprio de Sócrates, em 2005. O estilo de fazer campanha em que não se prometiam 150 mil novos empregos. Apenas se assumia um forte objetivo comum. Jamais uma promessa eleitoral. Tão eficaz como difícil de cobrar.
Nesta campanha, que ainda agora começou oficialmente, peço aos candidatos que voltem a comprometer-se frontalmente com os eleitores, que digam ao que vão, que assumam e que assinem as suas promessas, que deem a sua palavra aos eleitores. Que digam o que querem fazer nos próximos quatro anos, como o vão fazer. Já agora, com que dinheiro (e de quem) o vão fazer: se dos munícipes, se da União Europeia, se de uma transferência do Governo Central.
A política precisa de frontalidade e vinculação. Para que cada candidato e cada eleitor saiba ao que vai.