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Que remédio

por Augusto Moita de Deus, em 10.11.17

Gosto muito do Norte e do Porto em particular. Mas sempre achei redutor e até contraproducente uma retórica de suposto confronto Porto-Lisboa que frequententemente é esgrimida. Lembro-me do Air Bull Air Race, que quando transitou do Porto para Lisboa foi um escândalo. Agora que se sabe que não volta ao Porto-Gaia em 2018, tudo ok, é uma questão de rotatividade. Até no Processo Fénix se citou esta semana o despique Porto-Lisboa. Há coisas a melhorar no Porto e em Lisboa, como há em Bragança e em Vila Real de Santo António e em Sagres e em Caminha. Claro que há a eterna questão da macrocefalia associada a uma capital. Mas quando há uma aspiração legítima por parte da Invicta, é preciso partir para a (futebo-)lógica do confronto Porto-Lisboa? Surgiu a notícia recentemente que o Porto vai ser um hub da Ryanair. Deve Lisboa insurgir-se? Seria ridículo. Portanto, será sempre necessário associar uma eventual preferência por Lisboa a questões de discriminação Norte-Sul? Se há uma clara discriminação geográfica em Portugal é no caso do Interior vs. Litoral. Mas aí há infelizmente cada vez menos gente para esgrimir esses ou quaisquer outros argumentos.

 

Chegam agora indicações que a Agência Portuguesa do Medicamento talvez não venha para Portugal. Se tivesse sido Lisboa a candidatar-se, a Agência viria para cá? Nunca iremos saber. Mas com o alarido Porto-Lisboa que se fez na altura, lá teve mesmo que ser o Porto o candidato. Que remédio.


lavagem de mãos e outras medidas profiláticas

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De Jorge Marques de Tocqueville a 10.11.2017 às 20:23

O Porto (os seus políticos) bradam contra o centralismo de Lisboa em suposta defesa do resto do país mas a evidência é que apenas querem o bicentralismo ou o recentralismo. Que o queiram, e terão a sua legitimidade, mas não o mascarem de luta pelo norte que é falta de vergonha.
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De Anónimo a 10.11.2017 às 20:54

Compare o link que postou com este:
http://oreivaivestido.blogspot.pt/2012/10/red-bull-air-race-o-naufragio-de.html
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De Augusto Moita de Deus a 10.11.2017 às 21:14

Obrigado pela referência. Eu sei que uma moeda tem duas faces. E que os assuntos são normalmente mais complicados do que parecem. Mas mantenho que não faz sentido num país como Portugal alimentar guerras Norte-Sul, tanto mais que na génese algumas dessas guerras originam-se de facto no universo futebolístico.
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De Sérgio Ambrósio a 10.11.2017 às 22:08

Se o Norte não batesse o pé a Lisboa, hoje já nem havia Norte!
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De Augusto Moita de Deus a 10.11.2017 às 22:20

Uma coisa são as aspirações legítimas do Norte, do Alentejo, dos Açores. Outra coisa é uma estratégia de confrontação que pretende deliberadamente criar divisões, que no médio e longo prazo são perniciosas para todos os intervenientes. Obviamente que uma estratégica centralista executada pela calada é igualmente divisória. Mas fica mal quando alguns representantes duma região tão nobre assumem uma postura de comparação, quando... no fundo não precisariam de o fazer. Ao fazer reivindicações e confrontos artificiais acabam, na minha opinião, por menorizar as suas legítimas causas.
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De Anónimo a 11.11.2017 às 11:18

Vê-se bem que é de Lisboa, ou, pelo menos, vive de Lisboa! Se visse todos os dias a inteligência, o capital, as oportunidades, os empregos qualificados a saírem daqui para Lisboa perceberia melhor. Aconselho-o a ir à estação do Oriente às sextas ao fim da tarde a ver a quantidade de pessoas que deveriam estar no Porto mas têm que estar em Lisboa.
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De Augusto Moita de Deus a 11.11.2017 às 12:17

Caro anónimo,
conheço pessoas do Porto que vêm para Lisboa, assim como sei de pessoas do Minho ou de Trás-os-Montes que tiveram que ir para o Porto. Assim como inúmeras pessoas do Interior que foram para o Litoral. Há factores económicos e sociológicos que explicam essas migrações. Espero que isso não provoque uma retórica agressiva ou de queixumes por exemplo entre Chaves e o Porto.

No caso de Lisboa vs Porto (ou vs Coimbra ou vs Braga ou vs Faro) há sempre macrocefalias causadas pelo facto de se ser capital. Contudo, sempre achei de mau gosto uma estratégia de confronto que, considero que em larga medida se originou em tempos recentes no universo futebolístico. Donde surgiu a conversa dos mouros? Num país tão homogéneo como Portugal (e onde a heterogeneidade a existir é Interior vs Litoral) estar a alimentar esse tipo de conflitos pode gerar divisões onde elas não existem.
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De Anónimo a 11.11.2017 às 15:46

Curioso que não refira que conhece pessoas de Lisboa que tenham ido para o Porto..., os poucos que o fazem não é para poderem trabalhar, porque trabalhos qualificados são cada vez mais escassos por aqui. Há mais bons empregos no Parque das Nações do que na cidade do Porto. E não chame à colação o futebol porque até aí o Porto perdeu importância, temos 2 clubes na 1.ª liga sendo que 1 foi por imposição judicial, e Lisboa tem 3! Só quem cá vive e quem tem que ir amiúde a Lisboa logra descortinar o fosso que se tem vindo a agravar.
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De Augusto Moita de Deus a 11.11.2017 às 16:32

Concerteza que conheço pessoas que foram de Lisboa para Braga ou de Lisboa para o Porto ou da Madeira para o Porto para trabalhar. Quem eu conheço ou você conhece é irrelevante. O que conta são os números. Se os números provarem que há mais pessoas do Porto a vir para Lisboa do que o inverso, e então? Isso prova que Lisboa é mais desenvolvida e que como capital absorve mais recursos. Mas é isso feito contra o Porto em especial, ou contra Faro ou Guarda? Acho que não.

Claro que qualquer cidade ou região quer melhorar as suas condições de vida. Mas é por atacar quem está melhor que conseguirá o seu objectivo? Não será por colaborar e competir, de maneira descomplexada, sem perder tempo com querelas fúteis?

Quer isto dizer que o Porto não pode criticar Lisboa, quer como cidade quer como capital? Claro que pode. Mas isso não justifica uma obsessão anti-Lisboa, como certos líderes (políticos, desportivos) manifestam, de forma populista.

A Espanha, a França ou a Alemanha são países genericamente mais avançados que Portugal. Podemos criticá-los? Claro e em alguns aspectos são mesmo muito criticáveis. Mas devemos tomá-los como alvo, sempre que alguma coisa lá corre bem ou se alguma coisa cá corre mal? Acho que não.

Penso que o mesmo se deveria passar na relação Porto-Lisboa. O Porto é excelente, as pessoas são espectaculares em hospitalidade e em espírito de liberdade. Para quê deitar abaixo outros, sejam eles quais forem, só porque numa ou noutra característica podem estar um pouco melhores?
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De Anónimo a 11.11.2017 às 17:18

Não confunda. Não se ataca Lisboa, mas o que representa e o que o Estado se tornou. O centralismo político, financeiro e económico está a asfixiar o país, e nós tomamos as nossas dores. Outros no país não se importam porque gostam de aparecer ao lado dos que aí estão ou querem ir para aí. O nosso problema são os que andaram a bajular e foram encantados pelo canto da sereia, sendo acríticos relativamente a elogios de que somos hospitaleiros, amáveis e outras tretas, quando ao mesmo tempo investiam na capital e nos davam sobras. O que temos conseguido, como o huber ryanair, foi motivado pelo abandono da Tap, o Ipatimut não é obra do Estado, e de importância não há muito a relatar. Não há apoio para o grande prémio de históricos, que trazia os endinheirados para a cidade, mas há para a websummit, não há para o red bull air race mas há para a volvo ocean race, etc. Para aqueles 2 eventos era preciso 5 milhões de euros, mas é caro. Não há retorno? Poupem-me. Uma obra como a Expo não é digna de uma cidade fora de Lisboa? Se o de Faro, ou de Chaves se conforma, é problema dele. No Porto está a crecer um sentimento de revolta, e o mais grave é que é justo.
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De Augusto Moita de Deus a 11.11.2017 às 17:35

O sr. (ou sra.) anónimo(a) está a confundir Estado com Lisboa. Sendo Lisboa a capital eu percebo essa associação, que em certos aspectos até pode existir. Mas daí extrapolar para um confronto entre cidades... acho excessivo. Note que o Estado por vezes também toma decisões que são lesivas para Lisboa. Como é óbvio, os lisboetas aí não vão culpar os portuenses ou os escalabitanos ou os flavienses.

O que eu digo é o seguinte: todas as generalizações são falsas.
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De asa a 13.11.2017 às 08:35

AHAHAHAHAHA

Wishfull thinking

Quero lá saber se gostas ou não da minha terra, quero é que:

->pagues scuts.
->A tua terra não seja considerada elegível para fundos comunitários, porque andou a apropria-se da pobreza das terras circundantes.
-> Que o estado não ande a comprar os terrenos do aeroporto à tua câmara, (aposto que aquela porcaria não vale 1.000.000.000€ sim mil milhões).
-> Posso encontrar uns terrenos da câmara que o estado pode comprar e acabar com o défice camarário do Porto.

Moitinha, até na generalidade concordo com o que escreves, mas aqui está a ser um tapadinho.....
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De Anónimo a 13.11.2017 às 13:31

Não é possível confundir Lisboa com o Estado! Não. Lisboa é uma cidade estado, onde estagiam os primeiros ministros e os presidentes, e nas instituições as popstars como o Santana. O resto é cada vez mais paisagem. Sem voz política, e só um jornal nacional, o JN, e uma televisão, o Portocanal, que sendo um canal de clube tem programação generalista bem melhor que A RTP, a SIC ou a TVI (programas de história, saúde, debate político, ciência, epicur e informação) e até há algum tempo atrás não era distribuído na região de Lisboa e Sul, é cada vez mais certeira a expressão do Luís Filipe Menezes dos sulistas, elitistas e liberais (nestes se incluindo, claro, os arranjistas, fascistas vermelhos do bloco e socialistas novos que estão mais à direita que o CDS). Só não vê quem não quer ou não quer ver, como o autor do post.

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