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Rio está a cumprir

por Nuno Gouveia, em 14.08.18

A liderança de Rui Rio não tem sido fácil e haverá muito descontentamento dentro do PSD. Todos podem testemunhar, sobretudo quem anda regularmente pelos meios do partido, que poucos militantes estão satisfeitos com o seu estilo de liderança, inclusive muitos dos que nele votaram. Mas, ao contrário de Pedro Duarte e de muitos outros, não concordo que Rio deva sair da liderança antes do ciclo eleitoral. Foi eleito há pouco tempo, tem toda a legitimidade para cumprir o mandato e mais, considero que está a fazer aquilo que defendeu, sendo fiel a si próprio e ao que prometeu durante a campanha. Está certo que podia ser menos quezilento com os críticos internos, mais acutilante na (fraca) oposição feita ao Governo e, sobretudo, ter-se rodeado de melhores quadros e não de uma versão anos 90/00 do PSD. Mas não me parece que seja justa a crítica que está a ser diferente do esperado.

 

Muitos dos seus apoiantes de primeira hora bem anunciaram: o PSD iria virar à esquerda (Salvador Malheiro recordou que Rui Rio é de centro-esquerda), ia mudar a forma de fazer oposição ao PS (David Justino disse que a forma como Passos Coelho fazia oposição fez o PSD perder votos), que havia um vazio de ideias no PSD (o terrível Ângelo Correia, que desde muito cedo deixou de apoiar o governo de Passos Coelho, bem avisou). E muitos outros seus apoiantes, como Morais Sarmento ou Silva Peneda, foram deixando muitas criticas ao PSD de Passos Coelho. Isto para não falar dos avisos sobre as alterações na política de justiça que Rio foi defendendo (as escolhas de Elina Fraga e Mónica Quintela apenas reforçaram essa ideia deixada durante a campanha eleitoral). Se somarmos a estas intervenções tudo aquilo que Rio foi dizendo sobre a sua visão para o PSD na oposição, como se relacionar com PS ou o distanciamento em relação ao CDS, ninguém pode dizer que a liderança de Rio está a ser diferente do prometido.

 

No entanto, é necessário deixar explícito que este caminho é errado e contra o património histórico do PSD. Acredito que uma parte substancial do partido não se revê nesta aproximação ao PS. Como bem explica o Miguel Pinheiro nesta brilhante peça no Observador, Rio está a seguir a tradição das Opções Inadiáveis e não a de Sá Carneiro ou de Cavaco Silva, acrescento eu, quando este rompeu com o Bloco Central. É uma opção legítima, sufragada pelos militantes nas últimas directas, mas não deixa de ser perigosa e danosa para os interesses do país. Não acreditando que haverá alterações na liderança até ao próximo ciclo eleitoral, serão os resultados que vão selar o destino de Rui Rio à frente do PSD. Se vencer as eleições, estou certo que o PSD se unirá à sua volta. Mas se perder contra este António Costa, que tem governado o país recordando os piores tempos de José Sócrates, ninguém lhe perdoará.

 

Nota para Pedro Santana Lopes: foi candidato à liderança do PSD há pouco mais de seis meses. Teve quase 50% dos votos dos militantes (entre os quais, o meu). Lamento que tenha abandonado o PSD, não cumprindo com o que afirmara durante a campanha. Sei que muito poucos no PSD o vão seguir nesta nova aventura e não posso desejar-lhe felicidades para o resto da sua carreira política. Mas como nada é eterno em política, espero que regresse daqui a uns anos à sua família de sempre.